Em pelo menos 12 capitais, novas marchas contra a corrupção reuniram ontem cerca de 28 mil pessoas. Presidente da CNBB, dom Raymundo Damasceno pediu que o povo fiscalize os governos
Marchas anticorrupção reúnem 28 mil pelo país
Brasília concentrou o maior número de manifestantes; além de críticas a políticos, eles pediam fim do voto secreto e manutenção do poder do CNJ
BRASÍLIA, SÃO PAULO, RECIFE, CURITIBA, MACEIÓ, SALVADOR, PORTO ALEGRE, GOIÂNIA. Um mês após a primeira marcha contra a corrupção e a impunidade, pelo menos 28 mil brasileiros espalhados por várias cidades do país, e mobilizados nas redes sociais, voltaram às ruas para cobrar ética na administração pública. Desta vez, predominaram apelos contra o voto secreto no Congresso, a favor da manutenção da Lei da Ficha Limpa e do poder do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de investigar e punir juízes corruptos. A adesão foi um pouco menor do que a registrada nos protestos de Sete de Setembro, quando 30 mil pessoas foram às ruas. Quatro capitais já articulam novas manifestações.
Brasília, mais uma vez, reuniu o maior número de pessoas. Segundo a Polícia Militar, 20 mil manifestantes participaram do ato na Esplanada dos Ministérios, organizado pelo movimento Brasil contra a Corrupção. Vestindo camisetas pretas com os dizeres "CNJ forte, Justiça transparente", associados a várias seções da Ordem do Advogado do Brasil (OAB), que apoia o movimento, participaram do protesto.
Os manifestantes criticavam o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Cezar Peluso, que se envolveu numa polêmica com a corregedora do CNJ, Eliana Calmon. O presidente da OAB nacional, Ophir Cavalcante, discursou:
- Nas ruas, vamos continuar a transformar a sociedade. Os advogados estão aqui porque não têm rabo preso a político.
A marcha foi do Museu da República até a Praça dos Três Poderes. Foram duas horas de caminhada, com alvos preferenciais, como o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF), flagrada, em vídeo, recebendo dinheiro de suposta propina.
A postura apartidária do movimento veio à tona quando um militante do PSOL, portando uma bandeira, foi expulso, sob vaias puxadas pelo orador.
- Qual o problema? Estou aqui com um senador do meu partido - reagiu ele, afirmando estar acompanhando Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).
Situação semelhante ocorreu em Recife, onde, segundo a PM, cerca de 800 pessoas ocuparam a principal avenida da Praia de Boa Viagem. A presença do deputado federal Paulo Rubem (PDT-PE) foi repudiada por parte dos manifestantes. Pelo microfone, um alerta:
- Esse movimento é apartidário. Político que faz parte da marcha só quer se promover - dizia o contador Karlos Bungenstab.
Cercado de amigos, o pedetista desabafava, em voz baixa:
- Não vão me tirar daqui. A marcha é de toda a sociedade.
Coordenadora da ONG Gestos, Alessandra Nilo, sem ter ligação com o deputado, reclamou.
- Não se pode confundir alhos com bugalhos. Ele integra a Frente contra a Corrupção na Câmara.
Em São Paulo, a marcha levou para a Avenida Paulista ideologias diferentes: maçons de ternos pretos, senhoras de caras pintadas, jovens com a máscara do personagem "V". Segundo a PM, havia 2,5 mil pessoas. Punks se infiltraram na passeata e começaram a jogar garrafas contra o vidro dos prédios. Um deles foi detido. No protesto, o senador José Sarney foi o político mais criticado, gerando bordões de baixo calão.
Em Curitiba, cerca de 500 pessoas participaram dos protestos. Já em Porto Alegre, as rajadas de vento contribuíram para a baixa adesão: apenas 50 saíram às ruas. Em Maceió, a marcha, realizada na praia de Pajuçara, reuniu 120 pessoas, e em Goiânia, 1.200, a maioria, vestida de preto.
O ato anticorrupção realizado em Salvador, na orla da cidade, mobilizou cerca de 600 pessoas.
- Nosso maior desafio é trazer para as ruas toda a multidão que aderiu ao movimento nas redes sociais - disse a universitária Paola Rodrigues.
(Fábio Fabrini, Evandro Éboli, Tatiana Farah, Marcus Vinicius Gomes, Letícia Lins, Naira Hofmeister, Odilon Rios, Agência A Tarde, G1)
FONTE: O GLOBO
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