Nesta quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) deverá anunciar o mais baixo nível dos juros básicos (Selic) da história do Banco Central, criado em dezembro de 1964.
Embora, em março, o Copom, presidido por Alexandre Tombini, tivesse anunciado que os juros básicos ficariam ligeiramente acima do seu nível historicamente mais baixo (8,75% ao ano) e que aí permaneceriam por certo tempo, a decisão posterior foi de seguir em frente e manter a derrubada – "com mais parcimônia".
Isso sugere que o corte a ser anunciado nesta quarta não será de 0,75 ponto porcentual, como nas duas últimas reuniões do Copom, mas de 0,50 ponto porcentual. Como a inflação anual se situa nos 5,10%, temos que, numa conta simplificada, os juros básicos reais (descontada a inflação) chegarão ao patamar mais baixo desde a instituição do sistema de metas de inflação no Brasil, em 1999.)
A crise internacional segue jogando a favor da queda dos juros no Brasil, por dois canais. Primeiramente, pela desaceleração da demanda global, que provocou forte retração nos preços das commodities (veja o gráfico no Confira) – em especial dos alimentos e do petróleo. Dessa maneira, contribuiu para uma inflação mais baixa dos preços também no Brasil. E, em segundo lugar, pela enorme disponibilidade de recursos existente no mundo, que mantém os juros básicos globais próximos de zero.
Embora nem sempre atuasse dentro das regras do jogo e nem sempre o Banco Central manejasse os canais de comunicação do modo mais adequado, o governo Dilma vem sabendo aproveitar a oportunidade oferecida pelo desempenho da economia global para baixar os juros no mercado interno.
É um tanto prematuro afirmar que esses níveis baixos, ou ainda mais baixos, tenham chegado para ficar no Brasil, porque o momento é de turbulência. E de turbulência ainda maior, caso a área do euro e o resto das coisas sólidas se desmanchem no ar – como avisou o Manifesto Comunista, de 1848. Nessas condições, nada fica previsível.
Independentemente disso, é preciso começar a entender que, cedo ou tarde, os juros praticados no Brasil ficarão muito próximos dos níveis internacionais, hoje entre 1% e zero por cento ao ano.
Alguns começaram a compreender que o patrimônio financeiro construído ao longo de anos de trabalho já não promete o mesmo retorno de há alguns anos. A juros reais de 2% ao ano, de um bolão de poupança de R$ 500 mil não se poderá tirar mais do que R$ 2.520 mensais ao longo dos 20 anos seguintes. Aos mesmos juros e aos mesmos prazos, para garantir um saque mensal de R$ 5 mil, o capital aplicado terá de ser de R$ 991,7 mil.
Paradoxalmente, a necessidade de elevar o patrimônio financeiro para assegurar aposentadoria complementar mais alta pode ajudar a aumentar a poupança nacional – hoje de só 16% do PIB –, porque as pessoas terão de ampliar suas aplicações financeiras.
Afora isso, este será um ambiente que, em condições normais e sem as turbulências de agora, levará as pessoas e as empresas a buscarem mais risco. Em compensação, a conta de juros do Tesouro será bem mais baixa.
Este é um dos mais respeitados indicadores de preços. Cobre as 19 commodities mais negociadas. Apenas em maio (até esta terça-feira), a queda de preços é de 8,6%. Não se espera reversão de tendência enquanto persistir o movimento de aversão ao risco.
Rebelião. Funcionários do Banco da Espanha (banco central espanhol) estão "em rebelião" contra o governo Rajoy que, dizem eles, aceitou interferências de Bruxelas e contratou auditores de fora para fiscalizar as contas dos bancos do país – função que normalmente é deles. (Nesta terça, no El País.)
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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