Ninguém contribuiu mais para politizar o julgamento do mensalão do que Lula
e o PT.
A oposição não tinha abraçado essa causa, seja por ter apanhado nas urnas,
seja por saber que o holofote logo se voltará para o PSDB mineiro, primeiro
cliente do valerioduto.
Foi Lula quem definiu como prioridade "desmontar a farsa" do
mensalão ao se despedir do Planalto, quando recordes de popularidade lhe
permitiriam fazer o que bem desejasse -lançar carreira internacional, sugerir
novos projetos de inclusão, torcer pelo Timão etc.
Lula pressionou pessoalmente ministros do STF e, quando ficou evidente que
Ricardo Lewandowski teria de entregar sua revisão e nada mais retardaria o
julgamento, mandou o PT atiçar a militância e usar a CPI do Cachoeira para
desviar a atenção e fustigar os adversários.
Tão logo saíram as primeiras condenações pelo esquema de desvio de recursos
públicos, a direção do partido não hesitou em qualificar o STF de
"instrumento golpista".
Não hesitou, também, em insultar o ministro relator, acusando-o de produzir
uma "falácia" justo quando ele se preparava para tratar da
participação ativa de petistas na compra de apoio parlamentar.
Cabe especular por que Lula e PT agem com o fígado. Uns dizem que eles
perderam a mão. Outros, que tentam estancar prejuízos eleitorais. Mas é difícil
acreditar que Lula, Zé Dirceu, Rui Falcão & Co vivam todos a mesma má fase.
E nenhuma pesquisa vinculou o mau desempenho do PT nas capitais ao mensalão. Em
São Paulo, por exemplo, o problema é o candidato: tem a metade do apoio do
eleitor ao PT.
Resta uma hipótese. Esculacha-se o STF, o procurador-geral e a imprensa
porque o mensalão é, como já disseram o delegado responsável da PF e Marcos
Valério, uma teia criminosa bem maior do que a que está sob julgamento.
Grita-se hoje para abafar o som do amanhã.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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