O brasileiro
não estava nem aí quando o domingo se apresentou
como cartão de visitas do verão e logo ficou
sabendo da entrevista de teor equivalente
ao bilhete em que Jânio Quadros avisou que estava deixando de ser o Presidente
da República, com sete meses de governo, por se sentir impedido de exercer os poderes a que tinha direito.
A
semelhança se esgotou na entrevista em que Marcos Valério
fazia, mas deixou de fazer, uma antologia
de razões servidas tarde demais a uma opinião
pública cansada de versões insatisfatórias como saldo republicano. De resto,
tarde demais para alterar a ordem dos fatores conhecidos e deixar mal o produto
posto à disposição dos cidadãos, sob o
insuficiente nome de mensalão. O que
seria a versão final de Marcos Valério ficou para outra oportunidade, quem sabe
melhor, e que não faltará na próxima curva da história.
No
domingo as circunstâncias eram outras, e não estavam em causa as tentações
da reeleição. Pairava no ar expectativa indefinida. Ninguém ficou
sabendo, nem por intermédio de quem, a entrevista voltou ao ponto de partida. Deixou
de haver. Se é que não faltou alguém, com senso de oportunidade e faro mineiro,
para reviver o papel de José Maia Alkimim quando, entre a manhã e a tarde do 25
de Agosto de 1961, dirigiu-se ao senador Auro Moura Andrade, então
presidente do Senado, e lhe perguntou se
era verdade ter em mãos “um documento
capaz de mudar o destino do Brasil” e, diante
da confirmação, pediu para conhecer o teor. Leu sem pressa e, guardando os
óculos, perguntou o que Moura Andrade estava
esperando para lhe dar curso. (A versão
é do próprio autor mineiro e nunca foi posta em dúvida.) A História
guarda o essencial, e deixa pormenores para o varejo. Seja como tiver sido, a
entrevista de Valério foi recolhida e deixou na manhã de domingo o teor de um episódio
que passou de mensalão a Ação Penal 470. Melhor para todos.
As
conseqüências não se fizeram de rogadas em agosto de 1961, mas em setembro de
2012 o personagem principal, modéstia à parte, é mais cuidadoso. O ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, que não figura no elenco da Ação Penal 470, mas
opera por trás dos demais – para não se incompatibilizar como candidato em 2024,
-, não cuidou da Ação Eleitoral 7 desde que se interessou pela eleição
municipal, como terapia ocupacional para, na oportunidade, habilitar-se mais
uma vez à presidência, a seu ver incapaz
de viver sem ele. Este é, até segunda ordem, problema que só diz respeito à
presidente Dilma Rousseff, com prioridade para aceitar a reeleição, desde que a
República se sentiu em condições de manter esse desafio amaldiçoado. Mas aí o problema
passa a ser de Lula.
No
caso da entrevista de domingo, tenha ou não sido concedida, pessoalmente ou por
tabela, Marcos Valério pingava os pontos nos iis: tudo que disse já era do conhecimento
de boa parte do público interessado ou não. Lula sabia de tudo e, se não soubesse, pior para seu
saldo negativo. Falou mais firme a sensação de que se trata exatamente do que se sabia. O
Supremo mastigara com vagar para que a opinião pública não engasgasse com a
própria fome de escândalos acumulados ao longo do percurso para tornar realmente digeríveis
as conclusões finais.
Se
não estava, como devia estar, previsto que não poderia terminar bem o método
que encalacrou PT, a conclusão só pode ser que a ameaça de Valério antecipou a primavera à espreita
da oportunidade no eterno jogo de empurra
que é razão de ser da política.
FONTE:
JORNAL DO BRASIL
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