• Presidente está treinada para enfrentar debates
- Valor Econômico
Com 11 minutos e 48 segundos de tempo de televisão, a campanha da presidente Dilma Rousseff aposta no horário eleitoral gratuito para reduzir a rejeição da candidata do PT à reeleição, hoje em torno dos 35%, segundo as pesquisas, mas também nos debates na televisão. Dilma está preparada para também bater nos adversários, apesar do mantra segundo o qual o ataque não é um bom negócio para quem lidera as pesquisas.
Na campanha de 2010, para surpresa dos adversários, Dilma partiu para cima de José Serra, logo no primeiro debate. Ao final de um bloco do programa, a então candidata tomou a iniciativa de perguntar para Serra qual era o papel de Paulo Preto em sua campanha. Na volta dos comerciais, Serra ignorou solenemente a questão levantada por Dilma, de que o tal Paulo Preto havia desaparecido com R$ 4 milhões de um suposto caixa 2 da campanha do PSDB.
Um erro grave. O candidato tucano passou os dias seguintes sendo cobrado a responder a pergunta, outros tantos para dizer que não identificara em Paulo Preto o engenheiro Paulo Vieira de Souza, apontado como "arrecadador" de campanhas eleitorais do PSDB. Nada foi provado, mas o tucano ficou na defensiva, a pior posição para um candidato numa disputa eleitoral. O espectro de Paulo Preto, é bom que se diga, já se insinua na atual campanha eleitoral, quando se fala da cobrança de comissões em obras realizadas em São Paulo pelos sucessivos governos do PSDB.
A cúpula da campanha de Dilma leva a sério a rejeição da presidente detectada pelas pesquisas. As sondagens do próprio PT já haviam identificado o fenômeno, que é extensivo também ao Partido dos Trabalhadores. Há indicações de fadiga de material que o líder máximo do lulismo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, esperava que ainda demorasse a acontecer. Ela é palpável, especialmente em São Paulo, mas também no restante do país.
A avaliação feita no comitê da presidente é que a rejeição de Dilma, em primeiro lugar, carrega uma rejeição estrutural que está na faixa dos 30%, e nessa faixa permaneceria, mesmo se o papa Francisco estivesse do lado do PT. O raciocínio petista é simples: assim como há o núcleo duro de eleitores sinceros do partido, existe no país um núcleo duro de outras forças com interesses objetivos, concepções políticas e ideologias diferentes.
Esse "núcleo duro" - a expressão é de integrantes da coordenação da campanha da presidente à reeleição - tem sua base principal no Estado de São Paulo. Não é por acaso que o Partido dos Trabalhadores apenas uma vez ganhou a eleição em São Paulo, com Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. Foi a eleição da "onda vermelha", na qual o voto urbano e de classe média teve papel importante na eleição de Lula. Quatro anos mais tarde, Lula perdeu no Estado para Geraldo Alckmin por uma diferença de quase 3 milhões de votos. Dilma também perdeu para Serra em São Paulo, em 2010, embora por diferença menor. Conclusão do PT: independente das conjunturas.
A segunda questão analisada na coordenação da campanha da presidente é a rejeição dos outros candidatos na disputa, sobretudo, é claro, o senador Aécio Neves (PSDB) e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB). Os dois são menos conhecidos que Dilma, naturalmente, portanto, carregam uma rejeição menor, à esta altura da corrida sucessória. À medida que a campanha avançar, o nível de conhecimento de Aécio Neves e de Eduardo Campos vai aumentar, mas o nível de rejeição também vai crescer.
Nesse momento entra na campanha o que ainda não começou pra valer: a "troca de chumbo", como se diz no comitê, que deve se dar principalmente nos debates e no horário eleitoral, na programação do rádio e da televisão de 19 de agosto até a eleição. Vale "dedo no olho". No QG de Dilma acredita-se que a presidente candidata larga na frente pela mostra das realizações do governo, pela comparação com o passado - os tais 12 anos do PT contra os oito do PSDB - e pela projeção de futuro embalada na linguagem do marqueteiro João Santana.
A tendência nesse instante, segundo o PT, é a rejeição de Dilma cair. Não a um ponto inferior à rejeição estrutural, aquela estimada em 30%, "mas vai cair", é a profissão de fé na coordenação da campanha. E se houver segundo turno, como projetam as pesquisas, a tendência é que as rejeições sejam quase equivalentes. É a rejeição do eleitor que já tem um candidato e não vota no outro de jeito nenhum. Ou seja, há vários "momentos de rejeição", assim como várias maneiras de reduzir a própria rejeição e de ampliar a dos outros.
Um exemplo é citado no comitê de Dilma: desde a publicação da denúncia da construção de um aeroporto (pode ser uma pista de pouso, mas o que ficou no imaginário da discussão foi aeroporto) em terras de um parente do senador Aécio Neves, cresceram as menções negativas ao candidato do PSDB nas redes sociais. Menções multiplicadas pelo exército que a campanha de Dilma, como as outras duas principais, mantém na internet.
Sempre que é provocado sobre a rejeição a Dilma Rousseff, o presidente do PT, Rui Falcão, recorre ao exemplo da eleição municipal de 2012 para mostrar como é possível a reversão de um quadro adverso. O PT disputou aquela eleição sob o julgamento do mensalão, episódio que mais uma vez foi utilizado à exaustão na campanha, pelos adversários, "e ainda assim nós fomos o partido mais votado do país". Poderia ser uma votação maior, não fosse o mensalão, mas isso não é mensurável. "O fato objetivo é que nós conseguimos suplantar um episódio altamente negativo", diz.
No entendimento da coordenação da campanha da presidente, Dilma está "muito bem" treinada nos debates e deve comparecer a todos aqueles promovidos pelas principais emissoras de televisão. Como presidente da República, segundo dá conta o PT, domina todos os assuntos, algo que os outros não necessariamente dominam. Além disso, "é boa no debate". Pode apanhar, mas também vai bater, se for preciso.
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