– O Estado de S. Paulo
Em que pese a indevida formalização aos clientes de um ponto de vista eleitoral, a mensagem do Banco Santander aos clientes especiais sobre a conjuntura econômica reflete a visão do mercado. Associá-la a uma sugestão, implícita na análise, para que não votem na candidata governista, é ultrapassar o limite ético e legal.
A repercussão do episódio, já objeto de desculpas públicas do banco, materializou o que já indicara, mais de uma vez, o sobe e desce da bolsa a cada pesquisa – em alta nas quedas da aprovação da presidente e de seu governo e versa.
Os agentes econômicos que formam o chamado mercado não se restringem aos especuladores, que costumam ganhar em qualquer circunstância. Não é algo abstrato, mas um segmento empresarial e financeiro que representa a força produtiva do país e que conviveu bem com os oito anos de governo Lula.
Tolice, portanto, ou mera retórica defensiva do PT, atribuir as críticas do setor, e mesmo sua oposição à política econômica do governo, um sentimento antipetista que, por si só, explicaria o distanciamento dos investidores, empenhados em uma ação conspiratória.
Em outros tempos essa retórica poderia até surtir algum efeito eleitoral, mas nos dias de hoje, com a população exibindo um comportamento pragmático por melhores serviços, permanece tolo insistir nesse tipo de reação, fora da realidade.
O fosso que separa a presidente Dilma das aspirações da sociedade por gestão competente é reflexo da ausência de investimentos e de parceria entre governo e setor privado, modelo rejeitado pelo PT historicamente, mas decisivo para atender à demanda das ruas.
Por descuido, ato falho, ou algo pior que as desculpas públicas do banco não avalizam, a instituição financeira expôs o que as análises internas do setor já fazem circular pelas vias legais há muito tempo, sem que suas críticas valessem uma reavaliação do modelo econômico.
O mercado, que o PT trata como uma abstração, se guia pelos negócios e pelo lucro, como é inerente ao capitalismo. Não joga dinheiro fora e não aposta em gestões duvidosas do ponto de vista dos resultados, não importando qual partido esteja no poder – a menos que seja um que pretenda reverter o sistema capitalista.
À parte a reação de indignação motivada pelo potencial dano eleitoral da análise do Santander, o governo e seu partido não têm resposta para o conteúdo do documento enviado aos clientes, que essencialmente revela dúvidas quanto à capacidade de reversão dos resultados da economia em 2015, em caso da continuidade do modelo em curso.
É uma dúvida generalizada, permeada aqui e ali de certezas negativas. A presidente Dilma não disse ainda o que fará para reverter o quadro econômico próximo da recessão, limitando sua autocrítica a um genérico mea culpa feito de forma indireta por interlocutores não nominados.
Esse caminho, pouco claro, indireto e genérico, dá apenas aparência de boas intenções a uma gestão que ainda não se mostrou revisionista, optando até aqui por uma administração de varejo, de erro e ensaio, à base do a cada dia sua agonia.
Não há confiança que se restabeleça nesse contexto, o que não só aumenta a distância entre governo e empreendedores, como solidifica a desconfiança de que um eventual segundo mandato será mais do mesmo.
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