sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Eliane Cantanhêde - Onda

- Folha de S. Paulo

A eleição deu todas as voltas possíveis, mas chega aos últimos dias como começou lá atrás: com o favoritismo da candidata à reeleição, Dilma Rousseff.

O trator Dilma passou por cima de Marina Silva no primeiro turno e está atropelando Aécio Neves no momento decisivo do segundo. Além disso, ela e Lula atropelaram também vários limites. Atacaram a pessoa Aécio, o governador Aécio, o partido de Aécio. Nem sempre com verdades.

Funciona assim: o marqueteiro João Santana consulta os grupos das pesquisas qualitativas para construir uma Dilma e um governo Dilma melhores do que são na realidade e para desconstruir o adversário, ou adversária, criando um mostrengo do que eles são na realidade.

A partir daí, vem a ordem unida: Dilma fala em entrevistas, Lula berra para a militância, a propaganda gratuita massifica, as redes sociais deturpam e panfletos anônimos trucidam. Bom sujeito, político hábil, jeitoso com as mulheres e governador de Minas com 92% de aprovação, Aécio chega ao fim da eleição como um "playboy" agressivo com as mulheres e um péssimo governador. É a força do marketing negativo.

Não há, porém, que se ter pena da oposição. Aécio sabia o adversário que iria enfrentar, mas ficou na retranca, passando de bom moço, fazendo uma campanha "limpa". Depois de duas eleições, o eleitorado conhece bem os avanços sociais da era petista, mas não ouviu falar da personalidade da presidente e metade não entendeu a gravidade do buraco na economia e ainda acredita em qualquer coisa que Lula diz.

A diferença é pequena, mas o PT chegou à última semana armado até os dentes, enquanto Aécio chegou sem munição. Dilma cresceu entre os jovens e entre as mulheres, disparou no Nordeste, subiu no Sudeste, conquistou o que havia a ser conquistado: a nova classe média.

O debate desta sexta (24) na Globo? É importantíssimo, mas talvez não suficiente para furar a onda.

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