- O Globo
O governo se prepara para divulgar dados de que o desmatamento ficou estável, mas ele está subindo. Ao adiar a divulgação do Deter, o governo espera o resultado do Prodes, que sai em novembro e vai mostrar estabilidade em 12 meses. A confusão é deliberada. A verdade: nos meses de maio, junho, julho, agosto e setembro houve um salto de 214% no desmatamento, segundo o Imazon.
O ano, para efeito dessa estatística, vai de agosto a julho. Existem dois sistemas de avaliação das imagens geradas por satélites que nos sobrevoam: o Deter foi montado em 2004 para ser um sistema de alerta, divulgado mensalmente. Tem que ser imediato para alertar e mobilizar governos, autoridades locais, ONGs na repressão. São esses dados que o governo segurou, quando voltaram a subir.
O Prodes é o dado anual. Normalmente, sai em novembro, e depois o número revisto sai em maio. O último índice mostrou um aumento anual de 29%, de agosto de 2012 a julho de 2013. Saiu de 4.500 km2 para 5.800 km2. Um salto de 1.300 km2 em um ano, após cair desde 2004. Um retrocesso.
Logo depois que saiu, no ano passado, o dado preliminar mostrando que, pelo Prodes, o desmatamento havia voltado a subir pela primeira vez em 10 anos, houve queda nos meses seguintes. A expectativa de quem acompanha a Amazônia, como o Imazon, era de que em 2014 fosse haver a reversão do aumento, o que faria 2013 ser um ponto fora da curva. O problema é que em maio, junho e julho subiu muito. Aí, mesmo no Prodes, não haverá queda importante. Ela foi anulada pelo aumento nos meses finais. Em agosto começa o ano seguinte para efeitos dessa estatística, e o desmatamento continuou se elevando. Setembro, também.
Com a alta dos últimos meses de 2013/2014, (maio, junho, julho) o que havia caído voltou a subir, mas o ano terminará estável. A realidade dos últimos meses, no entanto, é de aumento no desmatamento e na degradação florestal.
O Imazon, que processa as mesmas imagens do Inpe, mostra que nos últimos cinco meses houve alta em todos (veja o gráfico). Desses cinco meses, três entram na estatística de 2014 e dois na de 2015. Segundo Beto Veríssimo, do Imazon, mesmo a estabilidade que o Prodes vai mostrar não é um bom resultado:
- Estava caindo todos os anos desde 2004 e no ano passado passou de 4.500 km2 de área desmatada para 5.800 km2. São 1.300 km2 a mais. Isso não foi revertido. O Brasil tem compromisso de chegar em 2020 com 3.300 km2 em média de 2016 a 2020. Tem que retomar a queda agora.
O governo não divulgou os dados do Deter, que mostraria mês a mês a alta do desmatamento e ligaria o alerta para as operações de combate. Agora, anunciou-se um acordo entre o Inpe e o Ibama para divulgar só trimestralmente o dado. Isso significa que haverá menos transparência e menos alerta para a sociedade.
O governo está fazendo isso para tirar do noticiário a incômoda verdade de que nos últimos meses houve uma escalada de destruição da floresta amazônica.
- As florestas podem morrer de morte súbita, que é a derrubada imediata de toda uma área, ou pode ser uma morte lenta, em que o desmatador entra para tirar as mais nobres, depois as vermelhas, as brancas, e deixa só um paliteiro doente e sem vida. Este tipo de degradação também tem aumentado - diz Veríssimo.
O governo começa a fazer nos dados de desmatamento o que faz nos índices fiscais. Tenta divulgar de forma que pareçam ser o que não são. O desmatamento está subindo. É a verdade que se quer esconder.
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