sábado, 27 de dezembro de 2014

Escândalos derrubam ações da Petrobras em 6,19%

Ações ladeira abaixo

• Papéis da Petrobras caem mais de 6% com ameaça de rebaixamento e novo processo nos EUA

Rennan Setti, Ramona Ordoñez – O Globo

As ações da Petrobras interromperam uma sequência de três altas e caíram mais de 6% ontem na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Foi o primeiro pregão após a agência de classificação de risco Moody"s indicar que pode rebaixar sua nota de crédito e depois de a cidade americana de Providence, Rhode Island, entrar com ação coletiva contra a companhia e membros da diretoria. A queda foi a maior em duas semanas e fez com que a ação ordinária (com direito a voto) da petrolífera voltasse a valer menos de R$ 10. Ela também provocou uma queda de 1,46% do Ibovespa, principal índice da Bolsa, para 50.144 pontos. Em Wall Street, os recibos de ações da Petrobras caíram 2,76%.

Os papéis da companhia recuaram 6,19% (ordinários, com direito a voto, para R$ 9,85) e 6,11% (preferenciais, sem voto; R$ 10,30). Assim, em um dia, a empresa encolheu R$ 8,6 bilhões em valor mercado. No mês, a empresa acumula perdas de 20%, ou R$ 131 bilhões.

- O possível rebaixamento é algo que preocupa muito porque aquele que a (agência de classificação de risco) S&P fez, há algumas semanas, foi limitado, não afetou o rating global da companhia. Se a Moody"s tomar essa atitude, isso será encarado pelo mercado como um evento muito negativo para companhia - disse o analista João Pedro Brugger, da Leme Investimento.

Na avaliação de Luiz Roberto Monteiro, operador da corretora Renascença, as ações da companhia devolveram a alta "artificial" que registraram nos últimos dias. Nos três pregões anteriores, a empresa subiu 16,4%.

- Ela subiu sem qualquer motivo concreto, favorecida por um momento de pouca liquidez no mercado. A verdade é que o cenário continua muito negativo. Tudo está pesando: a possibilidade de rebaixamento pela Moody"s e os processos que a companhia enfrenta.

No dia 23, a Moody"s disse estar revisando as notas da Petrobras para possível rebaixamento. Por causa dos feriados do Natal, ontem foi o primeiro pregão desde o anúncio da Moody"s. A agência disse temer que a Petrobras seja forçada por credores a antecipar pagamentos por não ter divulgado balanço financeiro auditado.

Na quarta-feira, a capital do estado americano de Rhode Island, Providence, entrou com uma ação coletiva em Nova York contra a estatal, duas de suas subsidiárias internacionais e vários dos seus executivos, incluindo a presidente Maria das Graças Foster.

- Embora seja difícil afirmar com certeza nesse estágio inicial do processo, no mínimo, o volume de indenizações estará na casa das centenas de milhões de dólares - disse ao GLOBO Michael W. Stocker, sócio do escritório Labaton Sucharow e um dos responsáveis pela ação.

Stocker acredita que o processo será unificado às outras ações coletivas contra a firma brasileira nos EUA nos próximos meses e que toda a tramitação deve levar de dois a três anos.

Cidade perdeu 60% do valor investido
Segundo o processo, a cidade comprou 73.050 ADSs - American Depositary Shares, recibos de ações negociados nos EUA - da Petrobras entre março de 2012 e outubro deste ano, no valor de US$ 1,39 milhão. Mas o município se desfez de 19.700 desses papéis entre julho e setembro, obtendo receita de US$ 390 mil, de acordo com a ação coletiva. Assim, Providence possui ainda 53.350 ADSs, avaliadas hoje em US$ 395 mil, segundo cotação de mercado - desvalorização de 60% para um patrimônio que custou US$ 1 milhão. Quando a cidade comprou sua primeira ação da Petrobras, ela valia mais de US$ 28; ontem, encerrou cotada a US$ 7,39.

Providence ainda mantém títulos de renda fixa da Petrobras que adquiriu em 18 de novembro de 2014 por US$ 129 mil. Entre janeiro de 2012 e setembro deste ano, a cidade comprou cerca de US$ 770 mil em outros títulos da estatal, mas conseguiu vendê-los por valores próximos aos de compra durante esse período.

Para Cláudio Pinho, advogado especializado em petróleo da Fundação Dom Cabral, foi o fato de a Petrobras não ter publicado seu balanço financeiro auditado que levou Providence a citar nominalmente seus executivos na ação.

- Quando a Petrobras diz que vai publicar seu balanço mesmo sem o parecer da PwC, significa que os diretores estão assumindo a responsabilidade pelos números. Por isso, os executivos da Petrobras estão sendo citados nominalmente. A noção da credibilidade é tratada de forma mais séria nos EUA, e isso pode levar a uma corrida judicial mais forte daqui para a frente.

Segundo Pinho, a ação é semelhante às anteriores, só que é feita por uma municipalidade. Nos EUA, cidades e estados podem adquirir ações e debêntures, o que não é permitido no Brasil.

Procurada, a secretária de imprensa de Providence, Dawn Bergantino, disse que não comenta processos em andamento, mas afirmou que "a cidade está muito preocupada com as alegações surgidas contra a Petrobras."

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