• Ao contrário de 2010, quando manteve auxiliares de antecessor e o consultou ao escolher novos nomes, presidente restringe conselhos do padrinho à equipe econômica e acolhe parte das sugestões; anúncio de ministros do PT fica para a próxima semana
Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Ao contrário de 2010, quando fez questão de ouvir o padrinho político durante a montagem do governo, a presidente Dilma Rousseff tem dado pouco espaço para os pitacos do antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, ao escolher os ministros que vão acompanhá-la no segundo mandato, a partir de quinta-feira. Nesta sexta-feira, 26, esperava-se que o governo confirmasse mais nomes do PT que vão compor a equipe ministerial, mas o anúncio foi adiado para a próxima semana.
Dilma consultou o ex-presidente em novembro, e depois não pediu mais opiniões. Na época, Lula foi parcialmente atendido. Emplacou Nelson Barbosa no Ministério do Planejamento, mas teve de engolir a escolha de Joaquim Levy para comandar a Fazenda.
O resultado é a redução do número de ministros ligados a Lula no segundo mandato. A lista inclui Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), Miriam Belchior (Planejamento) e Celso Amorim (Defesa), entre outros.
Na terça-feira, quando foram anunciados 13 novos ministros, o único petista a aparecer na lista foi Jaques Wagner na Defesa. Esperava-se a confirmação de outros nomes, como Aloizio Mercadante na Casa Civil e José Eduardo Cardozo na Justiça, e o deslocamento de atuais ministros para outras pastas, como Ricardo Berzoini (de Relações Institucionais para Comunicações) e Miguel Rossetto (do Desenvolvimento Agrário para a Secretaria-Geral). Nada disso aconteceu. Faltam ser indicados 22 dos 39 ministros.
Lula e Dilma construíram uma espécie de acordo tácito para manter a relação com um mínimo de atritos. A base do acordo é: Lula só opina quando Dilma consulta. Como Dilma não tem consultado, Lula não tem opinado.
Os dois se encontraram três vezes depois da eleição. Em duas ocasiões, ainda em novembro, tiveram longas conversas sobre governabilidade e a montagem da equipe econômica. O terceiro encontro foi no dia da diplomação de Dilma, quando a presidente e o antecessor conversaram rapidamente antes da solenidade, na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Baixo perfil. Dilma estava acompanhada de Mercadante, apontado como responsável pelo “baixo perfil” dos nomes anunciados até agora, principalmente na área política.
O sonho do PT era ter Mercadante na Casa Civil, Berzoini em Relações Institucionais e Wagner na Secretaria-Geral. Dilma optou por trocar a pasta de Berzoini e escalar os gaúchos Rossetto e Pepe Vargas para as cadeiras próximas de seu gabinete no Planalto.
Petistas avaliam que essa opção tem influência de Mercadante, que quer concorrer à Presidência em 2018 e manobrou para evitar a concorrência de Wagner, outro nome com potencial de candidato, na “cozinha” do governo.
Testemunhas dizem que Lula ficou profundamente contrariado ao saber que Berzoini seria remanejado para dar espaço ao deputado gaúcho. As manifestações do ex-presidente limitaram-se a interlocutores e não chegaram a Dilma.
O estilo Dilma e o protagonismo de Mercadante também têm incomodado o PT. Integrantes da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB) se queixam que a Mensagem ganhou mais espaço no ministério ao emplacar Vargas e manter Rossetto e Cardozo em pastas de prestígio.
“Recebi mensagens de militantes manifestando preocupação com a representatividade do equilíbrio interno de forças do PT na montagem do ministério”, disse Francisco Rocha, o Rochinha, coordenador da CNB.
Dirigentes petistas também reclamam da falta de diálogo com Dilma. A presidente chegou a pedir ajuda a alguns deles para sondar nomes, mas não deu mais satisfações ao partido.
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