• Proposta de Abilio Diniz de reunir Lula/FHC/Temer exclui a presidente, que vai se tornando invisível
- Folha de S. Paulo
Leia, por favor, a frase abaixo e diga qual é o sujeito oculto:
"Tem que juntar o Temer, o Fernando Henrique, o Lula, trancar dentro de uma sala e jogar a chave fora, para encontrar a solução."
Sim, você adivinhou (convenhamos que era fácil): o sujeito oculto é Dilma Vana Rousseff, que vem a ser a presidente da República mas que foi "demitida" de uma sonhada reunião de caciques para encontrar solução para a crise.
Se o autor da frase fosse um doidivanas qualquer, desses que infestam as redes sociais, eu nem prestaria atenção.
Mas foi pronunciada por uma das figuras mais sensatas, sóbrias e ativas do mundo empresarial, Abilio Diniz, que foi dono do Pão de Açúcar quando Pão de Açúcar era sinônimo de supermercado no Brasil (é ainda hoje, mas o dono, agora, é o Casino, marca francesa não utilizada na rede, exatamente porque Pão de Açúcar tem muito mais apelo).
Abilio raramente ocupou cargos de comando em entidades de classe, mas transita no mundo político com grande facilidade (e muita audiência).
Ao "demitir" Dilma Rousseff, o empresário está apenas ecoando o que se ouve frequentemente entre seus pares.
Boa parte dos homens de negócio do Brasil já não conta com a presidente para desatar o nó que ela própria criou.
Em outros tempos, mais sombrios, essa gente correria para os quartéis e pediria uma intervenção militar. Agora, ao contrário, pedem que se reúnam líderes políticos de signos opostos para encaminhar uma solução.
Avançamos, pois, muitos passos na direção da civilização.
O descarte da presidente é consequência, direta ou indireta, de suas próprias renúncias.
Primeiro, renunciou à condução da política econômica, entregando-a a um "Chicago boy", como tal contrário às suas convicções.
Depois renunciou à coordenação política, passando-a a Michel Temer, que, por sinal, também renunciou a ela, deixando um vazio.
Aliás, antes de Abilio Diniz, o próprio Temer havia igualmente"demitido" Dilma, com aquela frase sobre a necessidade de encontrar alguém para "reunificar" o país.
Em bom português, Temer tratou Dilma como "ninguém".
Deve ser triste para a presidente verificar que seu vice não a considera capaz de reunificar o país, ou seja, de ser a presidente de todos os brasileiros, como prometem, um após o outro, os que chegam ao Palácio do Planalto.
Como é insólito ver um empresário de antenas ligadas excluir a presidente da discussão de uma saída para a crise.
Uma reunião Lula/FHC tal como proposta por Diniz faria todo o sentido. Poderia produzir a luz no fim do túnel e seria, pois, a solução, mas não dá rima, considerados os egos e interesses da dupla.
De todo modo, a proposta de Diniz deixa a nítida sensação de que Dilma tornou-se invisível aos olhos de uma parte do establishment político e empresarial. Pior: mais que invisível, tornou-se inconveniente para um número recorde de eleitores, conforme aponta a mais recente pesquisa do Datafolha.
Bem que o Financial Times escreveu outro dia que o Brasil é "um filme de terror".
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