Por Fernando Torres – Valor Econômico
SÃO PAULO - A combinação de aumento da taxa básica de juros (Selic) com resultados operacionais piores reduziu de forma acentuada, nos últimos trimestres, o número de empresas de capital aberto no Brasil com rentabilidade superior à variação da renda fixa, patamar que seria o mínimo desejado para se manter um negócio em operação.
Levantamento feito pelo Valor com base em dados de 234 companhias não financeiras de capital aberto mostra que apenas um terço delas teve retorno sobre patrimônio líquido, nos 12 meses até junho, acima da rentabilidade do CDI - o juro cobrado nos empréstimos entre os bancos e que anda colado à taxa Selic, que, ontem, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu manter em 14,25% ao ano. Em 2013, a parcela das empresas que estava acima da "linha d'água" era de 55%. Desde então, vem caindo sistematicamente.
O estudo mostra que a mediana da rentabilidade sobre o patrimônio desse grupo de empresas caiu de 9,5% em 2013 para 8,2% em 2014 e diminuiu para 6,8% no período de 12 meses até junho. Essa queda se explica por dois fatores: piora do resultado operacional das empresas, diante da alta de custos e despesas acima da elevação da receita, o que reduz a margem; e o efeito da alta do dólar e dos juros maiores na linha de despesas financeiras, o que jogou ainda mais para baixo o lucro líquido. Do outro lado, o CDI acumulado em um ano saiu de 8% para 11,7% no mesmo período de comparação.
A medida de retorno sobre o patrimônio é relevante porque dá uma dimensão relativa para o lucro das companhias - já que é diferente ter resultado líquido de R$ 10 para um capital investido de R$ 100 ou de R$ 50 - e também serve para avaliar se um negócio é viável economicamente.
Em tese, os dados do levantamento mostram que, se fosse viável fechar uma empresa rapidamente, os donos de dois terços das companhias brasileiras de capital aberto teriam feito melhor negócio se tivessem abandonado o barco em meados do ano passado e deixado o dinheiro aplicado no banco, ou em títulos públicos, sem correr riscos.
Apenas um terço das empresas dá retorno acima do CDI
Apenas um terço das companhias abertas brasileiras deu retorno contábil aos seus acionistas acima da rentabilidade da renda fixa, conforme levantamento feito peloValor com base em dados do Valor Empresas.
Considerando uma amostra de 234 companhias não financeiras de capital aberto registradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), 55% delas tiveram, em 2013, retorno sobre o patrimônio líquido acima do CDI - o juro cobrado nos empréstimos entre os bancos e que anda colado com a taxa básica Selic, definida pelo Banco Central.
De lá para cá, esse percentual vem caindo trimestre a trimestre - sempre considerando o lucro acumulado em 12 meses dividido pelo patrimônio líquido médio -, até se chegar ao índice de 33% no período de um ano encerrado em junho de 2015.
O retorno sobre o patrimônio registrado por uma empresa não se confunde com a rentabilidade obtida por investidores na bolsa com as ações dessas companhias, já que a variação das cotações depende de inúmeros outros fatores.
Mas essa medida é relevante por dar uma dimensão relativa para o lucro das companhias (é diferente ter resultado líquido de R$ 10 para um capital investido de R$ 100 ou de R$ 50) - e inclusive serve para determinar se o negócio é viável economicamente.
Os dados do levantamento permitem dizer que os acionistas de dois terços das empresas brasileiras de capital aberto teriam feito melhor negócio se tivessem fechado suas empresas em meados do ano passado e deixado o dinheiro aplicado no banco, ou em títulos públicos do Tesouro Nacional, sem praticamente correr riscos.
A redução desse grupo de empresas que está acima da linha d'água da rentabilidade, que ajuda a entender o pessimismo dos empresários, deve-se a dois fatores.
De um lado, acompanhando a Selic, a variação do CDI subiu de 8,02% ao longo do exercício de 2013 para 11,76% no período de 12 meses encerrado no segundo trimestre deste ano.
Ao mesmo tempo, a mediana do retorno sobre o patrimônio líquido desse grupo de empresas caiu sistematicamente, saindo de 9,5% no primeiro período de observação para 6,8% no último intervalo. Esse retorno é inferior até mesmo à variação da inflação medida pelo IPCA em igual período, que se aproximou de 9%.
A combinação de alta de custos e despesas, e de vendas ainda crescendo, mas em ritmo menor, ajuda a explicar a piora dos resultados operacionais das companhias nesse período.
Já a valorização do dólar e a própria alta dos juros também são fatores relevantes, já que penalizam a linha de resultado financeiro e jogam para baixo o lucro líquido das empresas.
Cabe notar ainda que esse percentual de empresas com rentabilidade acima do mínimo desejável para uma companhia - que é superar o retorno da renda fixa - tende a cair nos próximos trimestres. Seja porque a economia segue fraca e a inflação elevada, pressionando as margens, seja porque a Selic já está em 14,25% ao ano e deve ficar neste nível por um bom tempo.
Quando se verifica quantas empresas tiveram retorno sobre patrimônio acima de 14,25% nos últimos 12 meses até junho, a fatia cai de 33% para 27% da amostra.
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