• Vice reclama de Mercadante e das conversas da presidente com peemedebistas, e rejeita reassumir articulação
• Temer também citou seu incômodo por não ter sido avisado antes do corte de ministérios. Ponderou que a reforma deveria ter sido mais bem negociada
Júnia Gama e Catarina Alencastro - O Globo
- BRASÍLIA- Uma semana após deixar formalmente a articulação política do governo, o vice- presidente Michel Temer teve ontem um almoço com a presidente Dilma Rousseff considerado “indigesto” por aliados dos dois. Dilma fez um apelo para que o peemedebista retomasse a articulação política do governo, mas Temer negou e explicou que continuará cuidando apenas da macropolítica, como havia comprometido. Para completar, Temer expôs seu desgosto com diversos episódios recentes em que se sentiu atropelado pela presidente.
O tom do encontro foi descrito como duro e de “lavação de roupa suja” por interlocutores de Temer. O vice- presidente teria deixado claro que não dará um passo atrás na sua decisão de sair da articulação política e dito a Dilma que ela poderia escolher “alguém de sua confiança” para a vaga.
Encontro com Picciani irritou
O almoço ocorreu um dia após Dilma ter conversas reservadas com os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ) e Renan Calheiros ( PMDB- AL), e duas semanas após ela ter se encontrado com o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani ( RJ), para negociar diretamente as nomeações para cargos de indicação da bancada. Temer considerou estranho o encontro de Dilma com Picciani sem a sua presença.
— A senhora recebeu o líder do meu partido sem que eu estivesse presente ou sequer tenha sido informado — comentou Temer com Dilma, segundo relatos obtidos pelo GLOBO.
O encontro foi uma tentativa da presidente de distensionar a relação e mostrar que, ao se encontrar sozinha com Cunha, Renan e Picciani, não está passando por cima de Temer na tentativa de reconstruir pontes com o PMDB. Mas, segundo relatos, Temer foi firme em sua resposta e não deixou aberta a possibilidade de voltar atrás.
Desde que Temer deixou a articulação política, Dilma tomou para si, auxiliada pelo seu braçodireito, o assessor especial Giles Azevedo, a função de negociar com líderes da base a liberação de cargos e emendas parlamentares. O “atropelo” a Temer, que também é presidente nacional do PMDB, causou mal- estar. Aliados do vice- presidente lembram que, além do encontro com Picciani, também não foi comunicada a Temer a proposta de recriação da CPMF, que acabou sendo abortada em poucos dias pelo governo.
Sobre ambas as situações, Temer reclamou com Dilma que só ficou sabendo das notícias pelos jornais. O vice- presidente pontuou, durante o almoço, que, se tivesse sido informado das tratativas sobre a recriação da CPMF, o governo “não teria cometido esse erro” e a ideia nem chegaria a público, já que o vice trabalharia internamente contra.
Queixa contra Mercadante
Aliados de Dilma também disseram que o clima do encontro dela com o vice- presidente foi muito ruim. Temer reclamou ainda das interferências do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, sobre seu trabalho de articulação política, e disse que, a partir de agora, vai fazer apenas intervenções pontuais nas tratativas com o Congresso em torno de projetos de interesse do governo.
Temer se comprometeu a participar, no próximo domingo, de reunião no Palácio da Alvorada com a cúpula do governo para discutir soluções para cobrir o déficit de R$ 30,5 bilhões no Orçamento.
Diante da decisão de Temer, Dilma ficou em um impasse: extingue a Secretaria de Relações Institucionais nessa reforma administrativa ou a mantém? A pasta já estava na mira dos cortes que serão anunciados até o fim do mês, e as tarefas de articulação seriam acumuladas por Mercadante. Mas, com o abandono de Temer das funções, e com suas reclamações sobre Mercadante, Dilma não está mais tão certa sobre a conveniência do fim da SRI. A pasta está acéfala desde abril, quando Pepe Vargas foi para a Secretaria de Direitos Humanos. De lá para cá, Temer e Eliseu Padilha ( Aviação Civil) se dividiam nas missões da SRI.
Surpresa com a reforma
Temer também citou, no almoço com Dilma, outros fatos que o incomodaram por não ter sido avisado antes pela presidente, como a reforma administrativa, com a redução do número de ministérios e dos cargos de confiança da administração. O vice disse que foi surpreendido pela notícia e ponderou que o anúncio deveria ter sido mais bem trabalhado e negociado antes com as lideranças políticas.
Temer reclamou ainda de que, durante o tempo em que exerceu a articulação política, os acordos que firmava com os parlamentares não eram cumpridos pelo governo.
Momentaneamente, a presidente encarregou Giles Azevedo da negociação com deputados de partidos aliados.
A movimentação, porém, acabou gerando uma crise com o grupo de Temer, pois deputados que estiveram no Palácio do Planalto relataram que havia uma desconfiança por parte do governo a respeito de uma possível sabotagem na articulação política.
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