- Folha de S. Paulo
Já fui mais otimista em relação à crise. Pensava que, como a política tem horror ao vácuo, o destino de Dilma Rousseff se resolveria mais rapidamente. Ou bem ela sofreria o impeachment, ou sobreviveria a ele e ganharia algum fôlego para tocar a lojinha nos três anos que lhe restam de mandato.
Estava enganado. Por razões que não cabe aqui comentar, acabamos entrando na armadilha de um equilíbrio de baixo rendimento. Embora sair da crise interesse em tese a todos os atores políticos, esse se tornou um objetivo tão longínquo que os agentes se concentram em metas menos ambiciosas e mais capitalizáveis.
Dilma agarra-se como pode ao cargo e, ao fazê-lo, assegura a continuidade salarial para os milhares de servidores ligados ao PT e a partidos aliados, que conseguiram empregos e promoções na administração. Se um milagre acontecer, em 2018 a coisa talvez já não esteja tão ruim e Lula poderá até ser eleito.
Já a oposição liderada pelos tucanos, sentindo que a vitória eleitoral lhe escapou por um fio numa campanha em que o PT abusou de mentiras, agora se esforça para garantir que 2018 será diferente. Se o impeachment vier, será lucro. Se não se materializar, como parece mais provável, o que importa é assegurar que o PT chegue exangue ao próximo pleito, quando seria presa fácil de qualquer candidato oposicionista.
O problema aqui é que, enquanto todos se dedicam a seus objetivos mais factíveis, o país adia a discussão do problema que realmente importa, que é determinar o tamanho do Estado brasileiro. Catalisados pelas gastanças populistas do PT, os temores em relação à viabilidade do nosso modelo atingiram tal ponto que será difícil ver a retomada da confiança sem que antes se estabeleçam regras estáveis e fiscalmente verossímeis para o Estado de bem-estar social brasileiro. Sem essa definição, vai ser difícil assistirmos a um ciclo mais robusto de crescimento.
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