• Entrevista de Dilma, focada em imposto, desagrada ambos os lados
Leticia Fernandes e Eduardo Bresciani - O Globo
A afirmação da presidente Dilma Rousseff (PT) defendendo o aumento de impostos para reequilibrar as contas do país desagradou a adversários e a aliados do governo, inclusive os do PT. Para a oposição, a presidente deve procurar um plano B, já que, segundo eles, a proposta de recriar a CPMF não vai prosperar no Congresso.
— Se ela imagina que vai conseguir viabilizar o equilíbrio fiscal com a CPMF, é bom ela achar um plano B, porque o Congresso não vai aprovar essa recriação. O governo tem que cortar na carne, não jogar a conta para a população. Importante não deixar de lembrar que o discurso de hoje desmente a campanha política dela — disse o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PB).
“Falta apontar horizontes”
Parlamentares petistas defenderam a volta do imposto com alíquotas diferenciadas, taxando os mais ricos e isentando do pagamento as faixas menos favorecidas. Eles avaliam, porém, que a fala da presidente deveria apontar um horizonte mais positivo, ao invés de insistir numa agenda negativa:
— A CPMF é cercada de preconceitos, mas é um recurso democrático e que eu defendo. Em relação ao ajuste, que de fato ele sirva para a retomada do desenvolvimento, da atividade produtiva no Brasil. Só achamos que a presidente Dilma poderia dar mais esperanças ao povo brasileiro, apontar horizontes, falar do remédio amargo mas também das condições para a retomada. A gente se ressente às vezes da falta de esperança, acaba sendo uma agenda só do arrocho e da falta de perspectiva, o que sabemos que não é verdade. A gente quer ouvir isso da boca da presidente — afirmou o deputado Wadih Damous (PT), um dos vice-líderes do PT na Câmara.
Para o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), a proposta de Dilma de aumentar impostos, fazer uma reforma da Previdência e ampliar o ajuste fiscal mostra que ela estaria desconectada da realidade da população.
— Ela vir com essa pauta, achando que o Congresso pode acolher e votar, mostra que ela está totalmente desconectada da realidade. Medidas duras terão de ser tomadas, mas não pelas mãos da Dilma e do PT. Essa confiança foi quebrada. Se o congresso tentar votar isso, vai ser invadido.
Caiado ironizou afirmando que a insistência da presidente com a reforma da Previdência pode levar até o PT a apoiar a saída dela do cargo.
— Eu não quero, mas se ela insistir nisso aí teremos até o voto do PT para o impeachment dela — disse ele.
O deputado Eduardo da Fonte, líder do PP na Câmara, defendeu as medidas anunciadas pela presidente e disse que vai trabalhar pela aprovação das propostas.
— Se for preciso a CPMF, eu apoio e vamos sensibilizar a bancada. Tem que haver um esforço de todos. Não tenha dúvida que quando a gente fala em aumento de imposto não é uma agenda positiva, mas se ela se faz necessária, a gente deve discutir e aprovar.
O presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, afirmou através de sua assessoria que o partido é contrário a aumento de impostos e que isso ampliaria a recessão no país. Disse que o governo deveria fazer sua parte na diminuição de gastos em vez de exigir sacrifícios da população:
— No PSDB, votaremos contra a recriação da CPMF e somos contrários a quaisquer novos impostos. O aumento da carga tributária ampliará a recessão e impactará de forma ainda mais negativa em todos os setores da atividade econômica, agravando o desemprego e a crise social. Faria melhor a presidente, antes de impor novos sacrifícios aos brasileiros, que fizesse a sua parte na diminuição da estrutura do governo, que foi prometida por ela e ainda não cumprida.
O senador tucano ressaltou que a defesa de mais impostos por Dilma contraria o discurso feito por ela na campanha.
— O que nos causa perplexidade é a falta de cerimônia da presidente Dilma em desmentir a candidata Dilma, que passou a campanha garantindo que não haveria aumento de impostos — ressaltou.
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