- Folha de S. Paulo
Um dos argumentos dos prestidigitadores que ainda tentam vender amenidades na tormenta da economia é o fato de que há uns US$ 370 bilhões em reservas internacionais para proteger o Brasil.
Não é bem assim. Além dos cerca de US$ 110 bilhões que na prática o país deve nos intrincados contratos de "swap" cambial, economistas chutam números diversos sobre o valor seguro mínimo do colchão: seis meses de importações (US$ 85 bilhões em 2015), 10% do PIB (algo como US$ 150 bilhões) e por aí vai.
De toda forma, sobram suculentos bilhões no alvo de um debate aborrecido, escamoteado pela volta triunfal da Lava Jato às manchetes.
No campo petista, há os que defendem usar a grana para aumentar o gasto do governo, o que com queda forçada de juros e mais crédito de bancos públicos macaquearia a fórmula que ajudou a afundar o país.
A miopia é ditada pelo calendário eleitoral: o PT antevê uma surra histórica no pleito de outubro, e subsiste de susto em susto no Planalto.
Já do lado dito liberal, há percepção de que o aumento de juros que o BC telegrafou para a semana que vem não servirá para domar a inflação e piorará a recessão. O mal está, dizem, nas contas públicas destrambelhadas –e um bom uso das reservas seria abater a dívida interna.
A sugestão é virtuosa, mas é menos simples do que se insinua, a começar pelos ambíguos efeitos de que uma enxurrada de dólares geraria, ainda mais no ambiente volátil de petróleo barato, juros americanos em alta e incertezas chinesas.
É uma questão de imagem, também, ainda mais quando o governo tem pouca ou nula credibilidade. Por ora então o Planalto adere ao princípio prudencial segundo o qual reserva é bomba atômica: você tem para não usar, salvo em hecatombes.
Entre tantas pressões, o equilíbrio da equação é precário, e seu curso será determinante para o futuro imediato do que restou do Brasil.
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