• Declaração do governador de São Paulo ocorre após tucanos acenarem com restrições a apoio ao PMDB
Jorge Bastos Moreno e Martha Beck - O Globo
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse ontem ao GLOBO que o PSDB não precisa integrar um eventual governo Michel Temer, mas tem o “dever” de apoiar e sustentar no Congresso a gestão do peemedebista que pode assumir a Presidência se o Senado aprovar o impeachment e, consequentemente, a presidente Dilma Rousseff for afastada.
A manifestação de Alckmin ocorre um dia após o GLOBO revelar que parte da cúpula tucana estudava radicalizar a participação ou o apoio a um eventual governo Temer. Há tucanos defendendo que membros do partido que assumirem postos na eventual futura gestão sejam obrigados a pedir licença da legenda.
Com a ressalva de que não tem falado com Michel Temer desde a aprovação do impeachment pela Câmara dos Deputados, o governador de São Paulo disse que o PSDB tem o dever e a responsabilidade de apoiar o eventual governo do vice-presidente da República, inclusive na sustentação da base parlamentar, mas sem participar da sua administração.
— Temos o dever de apoiá-lo e sustentá-lo, politicamente, mas sem cargo e sem pasta. Repito: sem cargo e sem pasta — disse.
Alckmin afirmou que o país está passando por gravíssimos problemas em todas as áreas, principalmente na economia, com o agravamento do desemprego, e o PSDB não pode virar as costas para a crise:
— Daremos sim sustentação parlamentar para o governo Michel Temer, votando e apoiando todas as medidas que acharmos necessárias para o país, dentro de um quadro de amplas reformas.
O governador disse que a decisão de não aceitar “nem cargos nem pastas”, inclusive, permitirá a Temer ter mais condições de ampliar o leque de apoio partidário e políticos, oferecendo participação no governo a outras legendas.
Alckmin não está só no PSDB. O senador José Serra (PSDB-SP) vai além. Segundo ele, os tucanos devem apoiar um eventual governo Temer e podem inclusive integrar a administração.
— Seria bizarro o PSDB ajudar a fazer o impeachment de Dilma e depois, por cálculos oportunistas, lavar as mãos e fugir a suas responsabilidades com o país — defendeu Serra ao GLOBO.
O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) diz que, dentro de poucos dias, Michel Temer será presidente, e o PSDB patrocinou politicamente a abertura do processo, deu todos seus votos pelo impeachment na Câmara e fará o mesmo no Senado:
— Isso é, aliás, o que querem nossos eleitores. Poderá agora sabotar o governo cuja existência propiciou, ainda antes mesmo de sua constituição? Não é hora de desperdiçarmos nossa energia política com uma resolução partidária impeditiva de nossa eventual participação no governo Temer. A hora é, sim, de esclarecermos qual a linha de ação que desejamos que esse governo adote para merecer nosso apoio — argumentou Aloysio Nunes.
Nos últimos dias, Temer tem procurado políticos de vários partidos na busca de formar um Ministério para assumir o governo caso Dilma seja afastada pelo Senado. Uma das maiores preocupações do vice-presidente é com a condução econômica. O entorno do peemedebista ficou preocupado quando o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, muito ligado ao presidente do PSDB, senador Aécio Neves ( MG), disse que não aceitaria participar da equipe econômica num eventual governo Temer. Os peemedebistas viram a negativa como uma resistência dos tucanos em se aliar definitivamente a Temer. Esse núcleo mais próximo ao vice acredita que é urgente definir os nomes do time econômico.
Temer se reúne com Henrique Meirelles
Ainda tentando montar seu time econômico e formular uma plataforma que traga novo ânimo à economia, Temer se reuniu ontem por cerca de duas horas com o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. Na saída da reunião, ele negou que tenha recebido convite oficial do vice-presidente Michel Temer para assumir o Ministério da Fazenda. Mas, em entrevista coletiva ao final do evento, defendeu fórmulas para a retomada do crescimento em um discurso afinado com o que tem pregado o vice.
Meirelles disse estar sempre disposto a ajudar com aconselhamentos e afirmou que, pelas perguntas que Temer fez a ele durante a conversa, o vice está com o diagnóstico correto sobre a economia.
— O principal é a resolução da questão política e, a partir daí, o direcionamento econômico segue naturalmente. Certamente, como sempre, estou disposto a aconselhar — afirmou Meirelles.
— O mais importante para o Brasil é a questão da alta carga tributária, isso tem que ser endereçado no país de maneira estrutural. Para isso, tem que se endereçar a questão do crescimento das despesas públicas. O Brasil tem tudo para crescer, é uma questão de retomada da confiança e de uma clara trajetória de dívida pública sustentável. O mais importante é tomar medidas para sinalizar que a trajetória da dívida pública vai ser revertida no devido prazo e que, a partir daí, a confiança possa aumentar. (Colaboraram Catarina Alencastro e Júnia Gama)
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