• O reino por um nome novo, com biografia e traquejo político
- Valor Econômico
Passado o impeachment, não resta a mais pálida dúvida: a sucessão presidencial assumirá o protagonismo que os limites da interinidade conseguiram evitar. A eleição municipal, no proscênio agora, é jogo armado de conclusão rápida; e o governo de dois anos e meio, interregno até a presidencial, tem seus traços definidos e suficiente para realizá-los, ainda que no seu mínimo, de forma concomitante com a campanha maior. Assim, ao contrário do que imaginam os crédulos, não é a sucessão que vai atrapalhar o governo; é o governo, eleições e o que mais vier que não vão atrapalhar a sucessão.
Só no governo federal há três candidatos neste momento, em cargos que podem inflar sua candidatura. Michel Temer, o presidente, é o primeiro. Diz-se que, se Henrique Meirelles conseguir domar a economia, passa a ter um alto cacife para sua candidatura, e essa seria a razão pela qual o PSDB, partido engarrafado de candidatos, o ataca, exigindo uma definição antecipada de que vestirá o pijama ao deixar o Ministério da Fazenda. Não se sabe, porém, por que Michel Temer não seria ele mesmo o candidato caso seu governo dê certo.
Os dois são candidatos, a ver se, no final, um dará precedência ao outro ou se saem ambos. Temer, pelo PMDB; Meirelles pelo PSD.
José Serra, do PSDB, ministro das Relações Exteriores, é candidato, e tem levado no fio da navalha sua relação com Meirelles e com os candidatos de fora do governo. O problema é que se o PSDB não lhe der legenda, Serra conta com o PSD de Gilberto Kassab, seu já histórico parceiro, no momento ocupado por Meirelles. A candidatura Serra pelo PMDB não é impossível, mas, outra vez, não se sabe por que, se conseguirem bom resultado, o aguerrido conselho tribal de Temer cederá a vez.
Temer (PMDB), Meirelles (PSD) e Serra (PSDB), são os candidatos com a caneta na mão.
Fora do governo, é o PSDB o partido com candidaturas em maior número e mais atrasado na sua definição, devido aos atropelos da disputa interna. O presidente do partido, Aécio Neves, que controla a máquina partidária, e Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, estão à frente de Serra nessa corrida. Se Alckmin perder a legenda para Aécio, concluirá projeto antigo e já cantado de ingressar no PSB do seu vice.
O PMDB não tem outro candidato neste momento a não ser Temer. É, apesar das insistentes negativas do Palácio do Planalto, para não atrapalhar a coalizão. Dizem que ele também vai vestir o pijama, e para dar credibilidade à negativa, lança um nome novo como possibilidade do partido. O mais viável desses lançamentos é o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), que há um mês vem se movimentando com mais desenvoltura nessa direção. Com o sucesso da Olimpíada, que não se deve a ele mas certamente a ele seria atribuída toda a culpa se tivesse dado errado, há Eduardo Paes, prefeito do Rio.
Políticos experientes do partido afastam, porém, uma candidatura por aí, pelo menos no quadro atual. Uma das razões é que, com o perfil de Paes, quase irmão gêmeo, já existe Ciro Gomes, do PDT, desprovido de discurso e de argumentação para se apresentar, mas com mais recall.
Se Luiz Inácio Lula da Silva não puder ser candidato, apoiará Ciro, é o que se registra no PT. O partido que exerceu o poder nos últimos 14 anos vê que nenhum de seus candidatáveis sempre citados, como Jaques Wagner e Fernando Pimentel, estão em condições de integrar o elenco no momento.
Marina Silva certamente partirá para mais uma cruzada, agora que finalmente conseguiu ser dona de um partido, o Rede, depois de procurar pernoite em legenda amiga. Mas não se vislumbram ainda suas alianças, seu discurso e como poderá seguir nessa jornada com sucesso. Suas condições de outras candidaturas estão desgastadas no eleitorado.
Existe forte expectativa que, do Congresso, saia um nome novo, que encontre apoio na sociedade, mas por enquanto isso é apenas um desejo de boa parte dos políticos que não estão vendo entusiasmo com os 11 do time à disposição.
A eleição municipal de São Paulo é a que terá maior influência sobre o quadro presidencial futuro. Pesquisas feitas pelo PSDB mostram que a transferência de votos dos nomes nacionais para os candidatos locais está próxima de zero, e em alguns casos é até mesmo negativa.
Alckmin não está ajudando João Doria; Serra ofereceu o vice de Marta mas não transfere para ela um único voto; só Lula ajuda Haddad, mas pouco, e também tira bastante. Temer nada significa para Marta, bem como Paulo Skaf é apoio de soma zero. Marina Silva, que segundo a pesquisa não escapa da ruína, também não transfere votos, por exemplo, para a amiga Luiza Erundina (Psol). Cada um deve cuidar de si, reconhecendo que os que podem ser padrinhos estão morrendo pagãos.
Não ajudam, mas podem ser ajudados. A não ser no caso de Ciro, por exemplo, que se não tiver o apoio de Lula, tenta construir a candidatura na ressurreição da onda Brizola, o que, em São Paulo, pode ter pouco significado. Marina pode sim ser beneficiada pela atração que Erundina está exercendo sobre o eleitorado de esquerda. E Russomanno está convicto que, se não errar como errou em 2012, ganha a eleição, a ver quem se beneficiará disso.
A disputa em São Paulo, avaliam especialistas, é definidora da correlação de forças. Quem vencer dá um passo firme rumo à vitória de seu correspondente na disputa nacional.
Mas promete-se o reino por um nome novo, com biografia e traquejo político, projeto de país e inteligência para fazer uma campanha sem dinheiro de estatal ou empreiteira. Se não aparecer, o eleitorado pode atropelar os políticos e buscar suas próprias soluções.
Inconsequência
A pressão, extemporânea e inadequada, do PSDB sobre o governo Temer e sua política econômica está estourando a paciência alheia.
Denota extremada inconsequência, além de desconhecimento do partido de cujas costelas saiu.
O PSDB exige que Henrique Meirelles e Michel Temer anunciem logo que não serão candidatos. Temer, Geddel Vieira Lima, Eliseu Padilha, Moreira Franco, Romero Jucá, Renan Calheiros, sabem mais que os tucanos onde estão e para onde vão. Sempre souberam.
O PMDB é a anticentralização, age como grupo. É, ao mesmo tempo, uma entidade atrasada e civilizada. Seus dirigentes não brigam, se compõem entre si e com os de fora. São contraditórios, antagônicos, absolutamente democráticos. Praticam a miudeza, essencial na sua estratégia, e a grandeza, com o mesmo empenho. O governo é esse sistema todo. O PSDB não tem condições de compreender isso.
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