• PSDB e DEM falam até em retirar apoio caso aumento seja aprovado
Partidos da base aliada cobram do Palácio do Planalto decisão firme sobre projeto que elevará salários do Judiciário e terá impacto de R$ 5 bilhões ao ano; Caiado chega a chamar de farsa
A decisão do PMDB de apoiar o aumento salarial para ministros do Supremo, que deve custar R$ 5 bilhões ao ano, abalou a base do governo Michel Temer. No PSDB e no DEM, líderes fizeram cobranças públicas e chegaram a falar em abandonar o Planalto, caso não adote uma posição firme contra o aumento. “Não é possível que haja dois governos, um para fazer bondade e outro para ficar com o ônus da decisão”, disse o senador Aécio Neves (PSDB). O líder do DEM, Ronaldo Caiado, foi enfático: “Não vou participar dessa farsa.”
Desajuste na base
• Aumento salarial do STF divide aliados do governo; PSDB e DEM ameaçam retirar apoio
Júnia Gama e Maria Lima - O Globo
BRASÍLIA- Um relatório paralelo do PMDB pela aprovação do aumento salarial para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e o endosso de senadores aliados, inclusive do vice-líder do governo, a um pedido de urgência na tramitação do projeto abriram ontem uma crise na base parlamentar do presidente interino, Michel Temer. As principais lideranças de PSDB e DEM cobraram publicamente o Palácio do Planalto a se posicionar de forma clara sobre o tema, inclusive sob pena de abandonarem a base.
O senador Valdir Raupp (RO), ex-presidente do PMDB, partido de Temer, apresentou um relatório paralelo ao de Ricardo Ferraço (PSDBES) na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), defendendo a aprovação do aumento para os ministros do Supremo. O salário deles — que, na prática, estabelece o teto do funcionalismo público e tem efeito cascata em todos os estados — passaria dos atuais R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil já a partir de janeiro de 2017.
Desconforto entre tucanos
O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), afirmou que a situação causou novo incômodo e que o líder do governo, o tucano Aloysio Nunes (PSDB-SP), ficou de ter uma conversa “mais clara” com Temer. Para Aécio, é preciso acabar com a “ambiguidade”.
— Mais um desconforto hoje no momento em que um senador ilustre do PMDB contrariou tudo aquilo que havia sido discutido conosco. Não é possível ter dois governos, um para fazer bondade e outro para ficar com o ônus de decisões que, se não agradam a determinadas corporações, são essenciais para o Brasil. Queremos apoiar o governo, mas não podemos conviver com esses sinais trocados — afirmou.
O líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), ameaçou abandonar a base aliada:
— É inaceitável admitirmos que o governo venha a patrocinar reajustes de servidores, recriação de ministérios e outras medidas que vão faSupremo? zer o país continuar na situação desastrosa deixada pelo PT. Se este for o ritmo do governo, eu estou fora. Não vou participar desta farsa — afirmou o senador.
A reação se agravou após os senadores tomarem conhecimento de que o líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE), protocolou pedido de urgência na tramitação do projeto dos ministros e também do que aumenta o salário do PGR. Eunício conseguiu as assinaturas de nove líderes, entre eles o vice-líder do governo José Medeiros (PSD-MT) e de senadores da base, como Benedito de Lira (PP-AL). A urgência pode ser votada ainda hoje no plenário e, caso aprovada, os projetos já estariam prontos para análise definitiva na próxima semana.
O relator do projeto do aumento dos ministros do STF, Ricardo Ferraço, reclamou da correria:
— Infelizmente, os sinais do governo são contraditórios. O PMDB, que é o partido do governo, deveria olhar para esta crise fiscal com mais responsabilidade. Tem tanta coisa urgente que o Senado precisa votar, qual a urgência em se aprovar aumento salarial para os ministros do Nesta questão, PT e PMDB voltaram a estar juntos — ponderou.
Em um almoço com 11 senadores e depois em reunião com a bancada da Câmara, os ânimos estavam exaltados, e um duro recado foi mandado ao Planalto: se no pronunciamento que fará à nação Temer não acabar com a ambiguidade, o PSDB não aceitará ser sócio do fracasso do país. Na reunião, os deputados fizeram cobranças duríssimas. Disseram que os candidatos do partido não têm condições de defender a posição contra os aumentos, enquanto o PMDB e outros partidos da base estão apoiando a “gastança”.
— O governo atende todo mundo e somos o soldado mau da história? Parece que a única função do ministro do Planejamento é ficar negociando aumento — disse o líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA).
Até Serra pede aumento a servidores
No almoço dos líderes no gabinete de Tasso Jereissati (PSDB-CE), o ministro das Relações Exteriores, José Serra, que é do PSDB, exibiu uma planilha de reajuste de seus servidores, que fizeram uma manifestação na frente do Itamaraty.
— Estão dizendo que o governo não manda o projeto de reajuste do Itamaraty porque o PSDB não deixa. O meu é pouquinho, R$ 78 milhões, e se não for aprovado o Itamaraty vai entrar em greve — tentou Serra, sem sucesso.
— Ô Serra, pelo amor de Deus, aumento agora não! — apelou Aloysio Nunes.
Com a forte reação, o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, disse ontem, após reunião com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que não há necessidade de “acelerar” a discussão sobre os reajustes.
No Rio, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, também do PMDB, afirmou que só após a votação do impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, o governo voltará a negociar em plenário os reajustes para várias categorias de servidores:
— Como não houve consenso na base do governo sobre os reajustes, decidimos suspender a discussão até a votação do impeachment.
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