As pastas da Justiça e das Relações Exteriores são tão tradicionais na administração pública que suas sedes ocupam palácios na Esplanada brasiliense, destoando dos blocos uniformes onde se amontoam os demais integrantes do hipertrofiado primeiro escalão do Executivo federal.
Por motivos que nada têm a ver com a gestão das políticas de governo, o presidente Michel Temer (PMDB) viu-se impelido a trocar o comando dos dois ministérios, o que despertou previsível assanhamento na coalizão situacionista.
O PSDB espera segurar-se no Itamaraty, do qual José Serra pediu demissão para tratar da saúde. Do outro lado da rua, os tucanos perderam um correligionário com a indicação de Alexandre de Moraes ao Supremo Tribunal Federal.
Para a vaga aberta na Justiça foi escolhido o deputado peemedebista Osmar Serraglio (PR). Irromperam choramingos de alas estaduais da sigla, que, segundo lógica compreensível apenas aos mascates do varejo partidário, consideram-se herdeiras naturais do posto.
Decerto que, em meio a 28 ministérios —numa contagem que tem sido alterada em intervalos de meses—, alguns são meros entrepostos de cargos, verbas e foros privilegiados. Aos dois palácios, entretanto, cabem decisões cruciais para a continuidade de estratégias de Estado.
Serra, político e gestor de luz própria, buscava personificar uma guinada da política externa brasileira, após 13 anos de controversa orientação petista.
Seu feito mais vistoso —e não desprovido de cálculo eleitoral e apelo ideológico— foi liderar as articulações que levaram o Mercosul a suspender a participação da Venezuela. A despeito da acertada ênfase no comércio exterior, ficaram por fazer a remodelação do bloco regional e a busca de novos acordos bilaterais.
Na Justiça, há que se levar adiante o Plano Nacional de Segurança Pública, resposta algo improvisada à onda de massacres em presídios brasileiros no início do ano.
Na realidade, trata-se de um rol de providências ensaiadas desde a década passada por uma pasta que hesita em assumir protagonismo numa área em que o país ostenta péssimos resultados.
Dada a estrutura de sustentação partidária de Temer, seria até ingenuidade cobrar critérios puramente técnicos na escolha dos ministros. A experiência mostra, aliás, que sumidades sem tino político pouco brilham no governo.
Se amparados por um segundo escalão qualificado, a coordenar burocracias que estão entre as mais profissionais da máquina federal, os novos titulares podem ser bem-sucedidos —desde que, claro, tenham ao menos grandeza bastante para não atrapalhar.
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