Agora aliado do governo, partido foi autor de ação sobre chapa Dilma-Temer
Carolina Brígido | O Globo
BRASÍLIA - Os advogados do PSDB querem que os cinco executivos da Odebrecht que vão prestar depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) esclareçam se a empreiteira abasteceu com propina a campanha de Dilma Rousseff e Michel Temer em 2014. Os depoimentos, marcados para depois do carnaval, vão integrar o processo que pede a cassação da chapa vencedora da eleição presidencial. A defesa do PSDB, que é o autor do processo, acredita que a inclusão dos interrogatórios não vai atrasar o desfecho do caso. O partido aposta que o julgamento poderá acontecer em abril.
— Vamos ter dificuldade para planejar as perguntas, porque a gente não conhece o teor da colaboração premiada. Vamos para os depoimentos no escuro. Mas será importante saber se o dinheiro que a empresa pagou de propina foi ou não para a campanha eleitoral — disse o advogado José Eduardo Alckmin, defensor dos tucanos no processo.
Alckmin afirmou que, depois de prestados os depoimentos, não pedirá nenhuma diligência complementar. No entanto, pode ser que os advogados do PT e do PMDB tenham interesse em fazer isso.
PMDB TAMBÉM PERGUNTARÁ
O advogado Gustavo Guedes, do PMDB, também disse que tem dificuldades em elaborar as perguntas, já que não tem conhecimento do que os delatores dirão nos depoimentos. No entanto, ele aposta que os novos depoimentos vão contribuir para o atraso no julgamento. Para Guedes, o mais provável é que o caso seja encerrado somente no segundo semestre deste ano:
— Sem dúvida vai atrasar, porque estão abrindo uma nova frente, uma nova produção de provas. Não vejo mais perspectiva de ser julgado no primeiro semestre, deve ficar para o segundo.
Os dois advogados devem acompanhar os julgamentos, marcados para o início de março. Também deve comparecer o advogado Flávio Caetano, do PT, que não retornou às ligações do GLOBO.
O ministro Herman Benjamin, relator do processo no TSE, decidiu ouvir o depoimento de cinco executivos da Odebrecht sobre os mesmos fatos que eles abordaram na delação premiada da Lava-Jato — ou seja, suspeita de que a empreiteira irrigou de forma ilegal a campanha presidencial de 2014. O primeiro a ser ouvido será o dono da empreiteira, Marcelo Odebrecht, em Curitiba, onde está preso. O depoimento será prestado no dia 1º de março. No dia seguinte, Benedicto Barbosa da Silva Júnior e Fernando Reis prestarão depoimento no Rio de Janeiro. No dia 6, Cláudio Melo Filho e Alexandrino de Salles Ramos serão ouvidos em Brasília.
Em parecer, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, concordou com os depoimentos, desde que sejam mantidos em sigilo. Isso porque a delação dos executivos da Odebrecht ainda está sob sigilo para garantir a integridade dos colaboradores e não prejudicar essa fase das investigações.
RISCOS PARA TEMER
Os novos depoimentos podem complicar a situação de Temer, que foi citado por delatores da Odebrecht. Na esfera penal, o presidente não pode ser processado por fatos anteriores ao exercício do mandato. No entanto, ele não está livre de ser investigado pelos mesmos fatos na esfera eleitoral. Se condenado, Temer poderá perder o cargo e ficar inelegível. Dilma, que também foi citada pelos delatores, corre o risco de ficar inelegível em caso de condenação.
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