A recuperação continuou no segundo trimestre, lenta, mas firme, e a recessão ficou mesmo para trás, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). É mais um dado positivo, depois do noticiário animador sobre a evolução do consumo e a reação de vários segmentos industriais. O indicador elaborado pelo BC subiu 0,5% de maio para o mês seguinte. No período de abril a junho, o resultado foi 0,25% superior ao dos primeiros três meses do ano, descontados os fatores sazonais. Os números continuam inferiores aos do ano passado e, além disso, em 12 meses o resultado foi 1,82% menor que o do período anterior, na série dessazonalizada, e 2,03% mais baixo na série sem ajuste. Mas um ponto parece claro: a tendência do movimento é para cima. Depois de pouco mais de dois anos de retração, o caminho de volta começou num ponto muito baixo. Há um longo percurso até o nível de atividade anterior à recessão.
O IBC-Br é considerado uma boa antecipação dos números, mais detalhados e mais precisos, das contas nacionais divulgados periodicamente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Está prevista para 1.º de setembro a publicação dos dados do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre. Por enquanto, o público dispõe de uma prévia, o IBC-Br, e de vários balanços parciais, com dados de consumo, produção industrial, emprego, comércio exterior e indicadores indiretos de investimento. De modo geral, esses balanços parecem confirmar a tendência geral de recuperação da atividade, ainda lenta, mas aparentemente bem definida.
A redução do desemprego, de 13,7% para 13% da população ativa entre o primeiro e o segundo trimestres, é um dos sinais positivos, embora 13,5 milhões de pessoas continuem buscando uma ocupação. Apesar de tanta gente sem salário regular, o consumo tem melhorado. As vendas do varejo restrito (sem veículos, peças e material de construção) cresceram em junho pelo terceiro mês consecutivo e superaram por 3% as de um ano antes.
A liberação das contas inativas do Fundo de Garantia facilitou o acesso a mais de R$ 40 bilhões. Isso deve ter contribuído para o aumento das compras, embora boa parte do dinheiro, segundo sondagens publicadas nas últimas semanas, tenha sido usada para a liquidação ou amortização de dívidas. De toda forma, também o reequilíbrio financeiro das famílias, com redução das dívidas velhas, acaba favorecendo, mesmo com atraso, a recuperação do consumo. A inflação em baixa também tem facilitado o retorno às compras.
Nos 12 meses até julho o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 2,71%, ficando abaixo do limite inferior da meta (3% ao ano). Esse resultado é em parte explicável pela evolução muito favorável dos preços dos alimentos – com maior sobra de dinheiro, portanto, para outras classes de despesas.
De maio para junho o crescimento da produção industrial foi nulo, mas o volume acumulado no semestre foi 0,5% superior ao da primeira metade do ano passado. O acumulado em 12 meses continuou negativo, com queda de 1,9%, mas também esse indicador tem melhorado. Além disso, em maio houve crescimento em 9 dos 14 locais cobertos pela pesquisa. Este dado é especialmente positivo, porque mostra uma recuperação mais espalhada.
Além disso, o aumento de atividade pode ter ocorrido também no cenário mais amplo, entre os grandes setores. No primeiro trimestre, o crescimento do PIB – 1% em relação aos três meses finais de 2016 – foi claramente puxado pela agropecuária, com pequena participação dos demais setores. Isso parece ter mudado no segundo trimestre, mas é preciso, ainda, esperar a confirmação pelos novos dados das contas nacionais, no começo de setembro.
A recuperação, pelas indicações até agora conhecidas, deve continuar no segundo semestre. Se o ritmo for mais intenso, a arrecadação de tributos deverá crescer. Ainda assim, a administração das contas públicas continuará difícil. Reformas serão essenciais para resultados fiscais melhores nos próximos anos.
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