Por Raymundo Costa, Raphael Di Cunto e Fabio Murakawa | Valor Econômico
BRASÍLIA - Às vésperas das convenções de julho, a pesquisa CNI/Ibope dificulta ainda mais a definição dos candidatos dos partidos à sucessão presidencial. O líder é um provável não candidato (Lula) e a taxa de votos em branco e nulos, em pelo menos uma hipótese testada, é quatro vezes maior que a registrada na eleição de 2014. A pesquisa também põe em xeque as estratégias sobretudo do PT e do PSDB para o 7 de outubro.
No PT o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estica ao máximo uma candidatura que provavelmente será derrubada nos tribunais, com base na Lei de Ficha Limpa. Enquanto isso, o nome tido como o mais provável para substituí-lo na cabeça de chapa, Fernando Haddad, patina na faixa dos 2% - o ex-prefeito tem rendimento melhor em pesquisas em que foi apontado como o candidato preferido de Lula.
A estratégia de Geraldo Alckmin (PSDB) também é considerada de alto risco: o tucano espera o horário eleitoral gratuito para melhorar seus baixos índices nas pesquisas - 6% no cenário sem Lula e 4% no cenário em que o nome do ex-presidente foi apresentado ao eleitor. Alckmin perde para Jair Bolsonaro (PSL) nos tradicionais redutos eleitorais dos tucanos, como São Paulo, o Centro-Oeste e o Sul do país.
Para o Rede, com Marina Silva como a perseguidora mais próxima de Bolsonaro, o erro na estratégia é o isolamento.. Estrutura partidária, alianças e tempo de televisão (alguns segundos, até agora) devem fazer falta na reta final da campanha, como fizeram em 2014, quando a candidata liderou até a véspera da eleição. Bolsonaro está com 17% e Marina 13%, no cenário sem a presença de Lula, uma diferença que fica dentro da margem de erro do levantamento
A agressividade de Ciro Gomes também parece não estar dando resultado - o pedetista praticamente não saiu do lugar, comparado a outras pesquisas. Faz bem em investir em alianças.
A tendência de uma eleição com alto número de votos em brancos e nulos já fora detectada em outras pesquisas e, sobretudo, em eleições complementares realizadas em recentemente. No Amazonas, em 2017, o número de votos em branco, nulos e abstenção chegou a 36,35% do total. No Tocantins, em eleição realizada neste ano, o não voto bateu 43,54%. O cenário da CNI/Ibope para a eleição presidencial de outubro é ainda mais preocupante.
Na pesquisa espontânea, sem que o instituto de pesquisa indique quem são os pré-candidatos, o percentual de votos em branco e nulos em junho de 2014 era de 16%. Pela pesquisa feita agora em junho de 2018, chega a 31%. Na pesquisa estimulada, no cenário em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o candidato do PT, os votos em branco e nulos estão em 22%. Sem o petista, sobem para 33%. Há quatro anos, o percentual era de apenas 8%. Isso sem contar com o absenteísmo.
Para o gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da Confederação Nacional da Indústria, Renato da Fonseca, "o eleitor está desapontado". Mas também que a estratégia do PT pode estar errada. Segundo Fonseca, o fato de parte dos votos de Lula migrarem para os nulos pode indicar que o substituto sugerido pela pesquisa, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), não é tão conhecido dos eleitores do Nordeste, onde o ex-presidente tem muita força.
Mesmo com o nome de Lula na pesquisa, contudo, há um índice muito maior de quem adianta que não votará em ninguém - o que é diferente dos indecisos, que ainda não escolheram no cardápio até agora oferecido pelos partidos e estão em percentual parecido do de quatro anos atrás. "[Voto em] Branco e nulo não é indeciso, é o cara que diz que vai anular, que está insatisfeito com alguma coisa", destacou Fonseca.
Pesquisas anteriores já mostravam descontentamento dos eleitores com a política e a CNI/Ibope fez outras perguntas nessa sondagem para tentar entender os motivos, mas o resultado ainda não está pronto e só deve ser divulgado em duas semanas. "O eleitor está muito decepcionado", disse Fonseca. "Tudo sinaliza que teremos percentual maior de votos em branco e nulos, ou de abstenção, que na eleição de 14".
A avaliação do governo Michel Temer, desaprovado em junho por 79% dos brasileiros, é a pior desde 1986, quando a pesquisa CNI/Ibope começou a ser feita.
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