- Folha de S. Paulo
Em seu momento, eles pareceram eternos. Mas estão morrendo, como o Bar Luiz, na rua da Carioca
Paulo Mendes Campos gostava de botecos. Tanto que, ao longo da vida, ele recolheu material para um livro na esperança de que um dia algum editor se animasse a publicá-lo. PMC, além de poeta, era redator profissional, vivendo desses bicos. O título estava escolhido: “História dos Bares do Rio”.
O projeto não vingou. Algumas informações, ao menos, valeram para uma crônica. Intitulada “Os Bares Morrem numa Quarta-Feira”, nela se afirma que o hábito de beber chope na cidade surgiu nas ruas da Assembleia e da Carioca. É justamente nesta última que fica o Bar Luiz, 132 anos, ameaçado de fechar. Adeus “eisbein” com salada de batata e mostarda preta.
Das cervejarias os cariocas passamos aos cafés, onde também e principalmente se bebia cerveja: o mais famoso deles era o Vermelhinho (não confundir com o Amarelinho, primo mais novo). Nos anos 1940, uma reportagem de Elsie Lessa revelou que no Rio havia 1.800 cafés “dotados de aparelhos telefônicos” —a maioria com cadeiras de palhinha nas calçadas.
Depois veio a época das mercearias enxertadas de uisquerias: Pardellas, Lidador, Villarino. As doses eram generosas, mas PMC desconfiava da sua autenticidade. Em 1949 foi inaugurado na rua Senador Dantas o Juca’s Bar, com a novidade do ar condicionado.
Quem tivesse peito de enfrentar o trânsito deixava o Centro mais cedo e ia se refrescar perto da praia: Alcazar, Lucas, Maxim’s, entre dezenas de outros em Copacabana; em Ipanema, Jangadeiro, Zeppelin, Mau Cheiro. Na década de 1980 dominaram os restaurantes dos Baixos, Gávea e Leblon, de atividade frenética madrugada adentro.
Em seu momento, eles pareceram eternos. Enterrados quase todos, permaneceram na memória dos boêmios. O que não deixa de ser um consolo: em territórios além-fronteiras, como a Barra da Tijuca, os bares já nascem mortos.
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