- Folha de S. Paulo
Os donos do dinheiro grosso seguem firmes com Paulo Guedes, e a oposição continua fazendo política com o fígado
Reportagem de Monica Gugliano, na revista Piauí, reconstitui em detalhes uma reunião no dia 22 de maio, no Palácio do Planalto, entre o capitão-presidente, seus generais de pijama e alguns ministros civis. A reunião era, na verdade, uma conspiração contra a democracia. “Vou intervir!”, esbravejou Bolsonaro.
O presidente
queria destituir os 11 ministros do STF e substituí-los por dóceis lambe-botas
para pôr a casa “em ordem”. Tudo isso porque o ministro Celso de
Mello tomara medida de praxe em investigação relacionada ao presidente. Os
conspiradores chegaram a discutir como dar uma fachada de legalidade ao
autogolpe.
O
desatino não encontrou ressonância entre militares da ativa, que tem o comando
das tropas. Evitou-se o insano propósito com uma “nota à nação brasileira”,
assinada pelo general do GSI, Augusto Heleno, que, no entanto, ameaçou o
Supremo com “consequências imprevisíveis” se houvesse “afronta” à autoridade
presidencial.
Que reunião de tal
teor tenha ocorrido e que não se veja reação ou providências das instituições
para punir os sabotadores da República mostra a profundidade do abismo em que
estamos metidos. À época do conluio sinistro, o Brasil chorava mais de 20 mil
mortos pela pandemia, e Bolsonaro reagia com indiferença. “E daí?”
Daí
que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia,
afirmou, há uma semana, não ter “elementos” para abrir um processo de
impeachment. Os donos do dinheiro grosso seguem firmes com Paulo Guedes e a
oposição continua fazendo política com o fígado. E assim todos vão se acomodando
à “nova ordem”.
Bolsonaro sempre mostrou quem é. Em 2017, afirmou: “Sou capitão do Exército, a minha especialidade é matar, não é curar ninguém”. A ditadura deixou 434 mortos e desaparecidos e milhares de torturados. Na democracia, os generais a serviço do colecionador de mortalhas tornaram-se sócios no massacre das 100 mil vidas imoladas, até aqui.
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