As atenções com
a montagem do governo no final de 2018 terminaram ofuscando o noticiário sobre
as descobertas que o Ministério Público do Rio de Janeiro fazia ao investigar a
movimentação financeira em gabinetes de deputados da Assembleia Legislativa do estado
(Alerj), no rastro da prática da “rachadinha”, o golpe pelo qual assessores de
deputados devolvem parte dos salários que recebem, e o dinheiro toma rumos nada
visíveis. Se Flávio Bolsonaro imaginou que, eleito senador, estaria fora do
alcance das investigações, estava enganado.
Apesar das
tentativas de criar obstáculos ao inquérito — algumas com êxito durante certo
tempo —, as investigações avançaram e ampliaram o papel do ex-PM Fabrício
Queiroz, amigo de Jair Bolsonaro, nas traficâncias financeiras em torno do
gabinete na Alerj do filho mais velho do presidente, o Zero Um. Relatórios do
Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) já haviam detectado
depósitos de cheques de Queiroz na conta da futura primeira-dama Michelle, num
total de R$ 24 mil. À época presidente eleito, Bolsonaro explicou: era o
pagamento de um empréstimo de R$ 40 mil, feito por ele ao amigo. Há poucos
dias, a revista “Crusoé” revelou que, entre 2011 e 2018, ao menos 21 cheques de
Queiroz abasteceram a conta de Michelle. Márcia Aguiar, a ex-foragida mulher do
ex-PM, depositou outros cinco. Somaram R$ 89 mil, sobre os quais o presidente
até ontem não se pronunciara. Os relatórios do Coaf não mostram nenhum depósito
de R$ 40 mil feito por Bolsonaro na conta de Queiroz. Não há, até agora, prova
do tal empréstimo.
Flávio
justificou assim o pagamento da prestação de R$ 16,5 mil de um imóvel, feito
por um outro PM, Diego Sodré de Castro Ambrósio, por meio de aplicativo de
celular: foi para evitar que ele saísse de um churrasco, em que ambos estavam,
para ir ao banco. Diego, afirmou o senador em entrevista ao GLOBO, foi
ressarcido em dinheiro vivo.
Na entrevista,
Flávio confirmou também que Queiroz pagou boletos de mensalidades escolares dos
filhos e de planos de saúde da família. Imagens da agência bancária da Alerj mostram
Queiroz pagando contas em dinheiro vivo.
Em depoimentos
prestados no inquérito do MP, a que O GLOBO teve acesso, Flávio disse ainda ter
pagado R$ 86 mil, em 2018, por 12 salas comerciais no Barra Prime Offices,
também em espécie. A construtora e a incorporadora confirmam. A origem? “Saí
pedindo emprestado para o meu irmão, para o meu pai, e eles me emprestaram.”
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