Bolsonaro
faz escola e até desembargador e enfermeira aderem ao baile funk na pandemia
O
presidente Jair Bolsonaro cai
nas pesquisas pelo negacionismo diante da pandemia e do desdém pelas vacinas. A
Procuradoria-Geral da República pede e o Supremo autoriza a
investigação do general da ativa Eduardo Pazuello pela
falta de oxigênio e as mortes em Manaus. O deputado Rodrigo Maia aproveita
sua última semana na presidência da Câmara para dizer que não há dúvida de que
Pazuello cometeu crime e defender a criação da CPI da Saúde.
Falta,
porém, responsabilizar autoridades e cidadãos que negam a pandemia, fazem
campanha contra o isolamento social e a própria vacina, que são as únicas armas
para salvar vidas, conter o vírus, aliviar a pressão sobre o sistema de saúde
e, assim, normalizar a economia e o próprio País. Eles também têm culpa.
São magistrados, parlamentares, empresários e irresponsáveis em geral, até da área de saúde, movidos pelo negacionismo, a ideologia irracional, a falta de respeito e empatia com os quase 220 mil brasileiros mortos. Esse mau exemplo, que começa com o presidente da República e decanta pelos seguidores da sua seita, induz jovens, idosos, homens e mulheres a relaxar os cuidados na pior hora. Tome baile funk nas periferias! E barzinho cheio dos bairros chiques!
Ao
assumir ontem a presidência do Tribunal de Justiça (TJ) de Mato Grosso do Sul,
o desembargador Carlos Eduardo Contar pediu “o fim da esquizofrenia e palhaçada
midiática fúnebre” e propôs que “desprezemos o irresponsável, o covarde e
picareta da ocasião que afirma “fiquem em casa’”. Para Bolsonaro, o cidadão que
se cuida e cuida do outro na pandemia é “maricas”. Para Contar, é
“irresponsável, covarde e picareta”.
O
desembargador não pronunciou uma palavra sobre os escândalos do Judiciário,
onde pululam “penduricalhos”, enquanto milhões de brasileiros estão sem
emprego, renda, até comida. Reportagem de Patrik Camporez, do Estadão, informa que ali do
lado, em Mato Grosso, os 29 magistrados do TJ
receberam, em média, R$ 262,8 mil em dezembro.
Contar preferiu reclamar das “restrições orçamentárias” e o “exaurimento da
capacidade humana” da corporação.
Pôs-se
a criticar aqueles que creem na ciência, nas entidades de saúde, nas
recomendações médicas como “rebanho indo para o matadouro”. E a atacar “a
histeria coletiva, a mentira global, a exploração política, o louvor ao
morticínio, a inadmissível violação dos direitos e garantias individuais, o
combate leviano e indiscriminado a medicamentos”. A pandemia é uma “mentira
global”?! Quem ele está papagaiando?
Isso
lembra a comemoração de parlamentares bolsonaristas quando o governador do
Amazonas, Wilson Lima, cedeu à
pressão e recuou do lockdown. Mas, depois, não escreveram uma só linha sobre o
resultado macabro: falta de UTI e oxigênio, pacientes morrendo asfixiados e
transportados para outros estados às pressas. Nem o sistema funerário resistiu
ao caos, que está sendo exportado para o Pará e Rondônia.Se o isolamento social
tivesse sido levado a sério pelo presidente e todos os governadores, o Brasil
não precisaria ter afundado tão dramaticamente em mortes e contaminações. E a
dúvida, agora, é quanto às vacinas. A quantidade, a logística, a seriedade e o
exemplo de cima – particularmente de Bolsonaro –, vão definir a luz no fim do
túnel.
Por
isso, dói na alma a enfermeira Nathanna Ceschim, do Espírito Santo, divulgar
vídeos sem máscara no hospital e desdenhando: “Não acredito na vacina (...).
Tomei foi água”. E por que tomou? Para se cuidar, preservar seus pacientes,
pais, avós e amigos e em respeito aos colegas do Brasil inteiro que se arriscam
para salvar vidas? Não. “A intenção era só viajar...” Com presidente,
desembargador, parlamentares e gente assim, é difícil ser otimista.
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