Os
próximos dias dirão se a mudança de humor veio para ficar
Na
última coluna em que defendi o impeachment de Bolsonaro, dia
11, eu pregava para convertidos. Em duas semanas, a maré virou, e a possibilidade
de afastamento do presidente se tornou o grande tema nacional. O que
houve nesses 15 dias?
A
mudança não se deu no panorama geral. A inadequação do presidente e de seu
governo, consubstanciada na sucessão de eventos passíveis de enquadramento como
crime de responsabilidade, já estava presente.
Também já estavam em curso fenômenos que sabíamos que afetariam negativamente a popularidade da gestão, como o fim do auxílio emergencial e a segunda onda da epidemia. Ainda que tenham contribuído para a mudança, esses fatores não são bons candidatos a "tipping points" (pontos de virada).
O
que surgiu de novo na última quinzena foram os relatos de pacientes morrendo
por asfixia em Manaus, devido à incompetência do governo em assegurar estoques
adequados de O2, e a constatação de que, também por culpa do governo, o Brasil
só conseguiu uma quantidade mínima de vacinas.
Enquanto
países que se prepararam, como Israel e o Reino Unido, já imunizaram coortes
importantes da população e podem estar colhendo os frutos em termos de redução
das hospitalizações, no Brasil não conseguimos doses nem para inocular os
profissionais de saúde que lidam diariamente com a doença.
Ambas
as "novidades" reúnem atributos de "tipping points"
poderosos, que falam diretamente a nossos cérebros. A história de Manaus cutuca
nosso medo ancestral de morrer por asfixia. A das vacinas apela a uma realidade
alternativa muito desejada que só não se concretizou porque alguém (Bolsonaro)
fez uma terrível besteira.
Os próximos dias dirão se a mudança de humor veio para ficar ou se não passa de um soluço. De qualquer forma, erra quem acredita que o apoio do volúvel centrão é proteção suficiente contra uma virada genuína da opinião pública.
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