Um
grupo de 30 países, nos quais se inclui o Brasil, recusa-se a discutir, em
agendas femininas, os direitos à saúde, receoso de que poderia significar uma
brecha para legitimar o aborto - já aprovado na Argentina -, caminhando na
direção da liberdade sexual e, paradoxalmente, do aumento, quase irresponsável,
da população. A taxa atual de crescimento da população mundial é de 1,2% ao
ano, de um total de 7 bilhões de seres humanos.
Dez por cento dessa população tem chance de ser infectada pelo coronavírus. A maioria segue “apenas vulnerável”, segundo a Organização Mundial da Saúde. Entretanto, essa vulnerabilidade assusta governantes na China, na Índia, nos Estados Unidos e em outros países, por remeter a situações pandêmicas no passado (peste negra, malária, aids e outras). Sinaliza, de acordo com Fauci, a necessidade de uma discussão mais espaçosa sobre o crescimento populacional e o aumento da concentração urbana no Planeta. A Organização das Nações Unidas prevê que, por volta de 2050, a população mundial superará a casa dos 10 bilhões de habitantes.
A
China (1,4 bilhão de habitantes), com quem Biden espera ter um diálogo mais
estreito, silenciosamente, já realiza políticas de controle da fecundidade e da
natalidade, com o fim de diminuir o espaço dessa vulnerabilidade e a pressão
sobre os recursos disponíveis. Chegou-se mesmo a cogitar de projetos oficiais
de concentração urbana, e cidades com até 100 milhões de habitantes. Para os
chineses acomodaria o vigoroso processo migratório interno do campo para a
cidade.
Não
é de surpreender. Projeções da ONU indicam, para os próximos 30 anos, que mais
de 100 cidades terão populações superiores a 5,5 milhões de habitantes.
Projetos concentradores de população, como esses, facilitariam a proteção
social e contribuiriam para a redução de custos das políticas públicas de
transportes, energia, atendimentos à saúde, educação e outros, dizem os
técnicos, e não dizem: possibilita o controle político e social interno.
Para o jornal inglês The Guardian, os governos mostram-se incapazes de controlar a expansão das taxas de natalidade e de concentração da população, contribuindo com essa omissão para disseminar a pobreza e a miséria pelo Planeta. Em 2100, Lagos, na Nigéria, poderá vir a ser uma metrópole com 85 a 100 milhões de habitantes. Acontecerá, provavelmente o mesmo, com Kinshasa, no Congo; em Kigali, na Ruanda; Bangalore, na Índia. Nesses lugares, estima-se em 600% o crescimento da população urbana até 2100.
A distribuição espacial da população pelo mundo não tem também qualquer controle. A densidade média populacional de ocupação do solo no planeta é de 24,2% por quilômetro quadrado. Mas, por exemplo: Paris tem 21.516 hab. por km; Mônaco 15.470 hab./km2; o Vaticano, 2.273 hab./km2; os Países Baixos, 416 hab./km2. No Brasil, o Distrito Federal destaca-se com 423,9 hab./km2; o Rio de Janeiro, 352,9 hab. /km2, enquanto que, no Amazonas, são 2,05 hab./km2; e, em Roraima, 1,75 hab./km2.
Algumas
formulações utópicas indicam que a solução poderia vir da produção agrícola
intensiva, com o uso de insumos vários, tecnologias, mecanização e gestão
especializada. Haveria um aumento calculado da produtividade e a população
agrícola migrada para o meio urbano teria assistência mais efetiva, do Estado,
contra pandemias e seus efeitos malignos. A fome seria amenizada pela
distribuição de cotas de alimento, como já fazem nossos vizinhos.
As
políticas públicas populacionais se vêm cada vez mais confrontadas com desafios
éticos, tipo: produzir mais para acabar com a fome no mundo (820 milhões de
pessoas), envenenar vagarosamente a população pelo uso de matrizes geneticamente
modificadas, ou controlar a natalidade, de alguma forma. No seu instinto egoísta, o homem criou
modelos de vida que ameaçam a estabilidade climática e levam à exaustão dos
recursos da terra. Com isso, vem perdendo o controle da sua própria
subsistência. Só se assusta diante das pandemias, quando percebe que a
vulnerabilidade é extensivamente igual para todos. A sustentabilidade está no
campo dos sonhos.
Com
relação às políticas populacionais, com coronavírus ou sem ele, o cenário
é distópico – vive-se um futuro de forma
precária, sofrido, sob regimes autoritários, insanos e falsos, e muita
angústia. Com raras exceções, esforços internos conduzem quase sempre a
alternativas caóticas e o fim dos grandes sonhos para a humanidade.
*Aylê-Salassié F. Quintão, jornalista e professor: doutor em História Cultural
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