O
governo Bolsonaro está numa crise sistêmica. As áreas estão colapsando, nada
funciona. O presidente ficou acuado pelo centrão, que queria mais espaço, e
pelos movimentos do Senado contra o ex-ministro das Relações Exteriores. Cedeu,
mas fez ao mesmo tempo várias mudanças e numa delas tocou numa questão
sensível: a militar. Na semana passada, ele foi claro com o general Fernando
Azevedo. Queria que o Exército desse “mais demonstração de apreço” ao governo
dele. Era nova pressão para tirar o comandante do Exército, Edson Pujol. Uma
fonte próxima do presidente, e também militar, me disse que o general Azevedo
também “estava cansado dessa loucura toda”.
A demissão de Fernando Azevedo desviou as atenções do fato de que o Senado exigiu a cabeça de Ernesto Araújo e a obteve. O que é um alívio, porque Ernesto foi um desastroso ministro das Relações Exteriores. “Para não mostrar sinal de fraqueza, ele jogou a bomba para desviar a atenção”, me contou uma fonte do governo. Nas Forças Armadas, a demissão do ministro da Defesa foi entendida como sendo o passo para que Bolsonaro tente usar o que ele chama de “meu Exército”. O general Fernando Azevedo vinha tentando fazer “um meio de campo”, me disse a fonte, para evitar que o presidente continuasse com o seu projeto de tratar as Forças Armadas como se dele fossem.
O
orçamento todo defeituoso e cheio de ilegalidades fiscais não foi feito sozinho
pelo senador Márcio Bittar. Ele é resultado também dos erros da articulação
política comandada pelo general Eduardo Ramos, agora na Casa Civil, e das
omissões do Ministério da Economia. No fim de semana, o Tesouro informou ao
governo que aquilo não podia ser sancionado. O medo que ronda o governo é que sancionar
torne o presidente parte do crime de responsabilidade fiscal. Expressão que
Bolsonaro treme só de ouvir. A demissão do Advogado-Geral da União, José Levi,
foi pelo fato de a AGU não ter assinado a ação contra os governadores no
Supremo que, pela falta dessa assinatura, foi derrubada pelo ministro Marco
Aurélio.
Bolsonaro
escalou a sua pressão para usar os militares da ativa. Por isso Azevedo
escreveu na nota que “preservou as Forças Armadas como instituições do Estado”.
O general Pujol se colocou como um obstáculo ao desejo de Bolsonaro. Ele
decidiu demitir Pujol. O então ministro da Defesa se colocou na frente. Agora
os comandantes das três Forças serão substituídos. Azevedo sempre será
criticado por ter estado naquele helicóptero que sobrevoou uma manifestação
antidemocrática no ano passado. Mas militares explicam que foi uma armadilha de
Bolsonaro. Na hora de entrar no helicóptero para fazer uma exibição de força,
ele puxou o ministro da Defesa. Azevedo admitiu a colegas que foi constrangido
e, assim que pousaram, ele foi para longe daquela manifestação.
Bolsonaro tentou fazer três movimentos ontem. Agradar o centrão, acalmar o Senado, que estava em pé de guerra, e derrubar mais barreiras para o uso dos militares da ativa para demonstrar força e dissuadir adversários.
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