sexta-feira, 23 de julho de 2021

Fernando Exman - Reforma expõe disputa nos bastidores

Centrão e Forças Armadas mantêm embate em torno de espaço político e recursos orçamentários

Valor Econômico

A minirreforma ministerial anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro joga luz sobre uma disputa que ocorria, em silêncio, nos bastidores. Uma disputa por espaço político e recursos orçamentários, ou seja, por poder: é este o contexto dos crescentes atritos entre representantes da tradicional classe política, notavelmente o chamado Centrão, e segmentos oriundos das Forças Armadas.

Esse embate coloca o presidente numa situação delicada entre as bases de sustentação do seu governo. E tampouco ajuda sua relação com os chefes dos demais Poderes.

O episódio mais recente é a reportagem publicada pelo jornal “O Estado de S. Paulo”. Autoridades das mais variadas áreas de atuação logo lembraram os limites constitucionais para a atuação das Forças Armadas, o que por si só já evidencia o longo caminho que a democracia brasileira precisa percorrer. No entanto, a despeito das negativas e notas de repúdio, as tentativas de se evitar uma escalada não esvaziaram o mal-estar entre os envolvidos.

A incorporação de militares em cargos estratégicos é alvo de críticas no Congresso desde o início do governo. Na reforma da Previdência, por exemplo, os integrantes das Forças receberam um tratamento específico devido às características da profissão.

Bolsonaro também buscou, conforme prometera durante a campanha, dar mais atenção aos orçamentos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. A iniciativa provocou descontentamento em outras áreas da máquina federal. O presidente também colocou oficiais, da reserva e da ativa, em postos tradicionalmente ocupados por civis - muitos dos quais indicações dos partidos políticos.

A reforma reduziu os poderes do ministro Luiz Eduardo Ramos, general da reserva, que deixou a Casa Civil rumo à Secretaria-Geral da Presidência. Depois do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, general da ativa, entrou na linha de tiro dos parlamentares o ministro da Defesa, que durante grande parte da pandemia estava na Casa Civil chefiando os esforços de combate à crise sanitária. O mesmo Braga Netto que levou para a Defesa algumas das bandeiras políticas de Bolsonaro.

Os atritos tendem a perdurar. O Centrão sabe da força que acumulou e quanto Bolsonaro precisa de seu apoio. Ainda pode aproveitar a oportunidade para tentar conquistar para si a bandeira de grande lastro da democracia.

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