Centrão e Forças Armadas mantêm embate em torno de espaço político e recursos orçamentários
Valor Econômico
A minirreforma ministerial anunciada pelo
presidente Jair Bolsonaro joga luz sobre uma disputa que ocorria, em silêncio,
nos bastidores. Uma disputa por espaço político e recursos orçamentários, ou
seja, por poder: é este o contexto dos crescentes atritos entre representantes
da tradicional classe política, notavelmente o chamado Centrão, e segmentos
oriundos das Forças Armadas.
Esse embate coloca o presidente numa
situação delicada entre as bases de sustentação do seu governo. E tampouco
ajuda sua relação com os chefes dos demais Poderes.
O episódio mais recente é a reportagem publicada pelo jornal “O Estado de S. Paulo”. Autoridades das mais variadas áreas de atuação logo lembraram os limites constitucionais para a atuação das Forças Armadas, o que por si só já evidencia o longo caminho que a democracia brasileira precisa percorrer. No entanto, a despeito das negativas e notas de repúdio, as tentativas de se evitar uma escalada não esvaziaram o mal-estar entre os envolvidos.
A incorporação de militares em cargos
estratégicos é alvo de críticas no Congresso desde o início do governo. Na
reforma da Previdência, por exemplo, os integrantes das Forças receberam um
tratamento específico devido às características da profissão.
Bolsonaro também buscou, conforme prometera
durante a campanha, dar mais atenção aos orçamentos do Exército, da Marinha e
da Aeronáutica. A iniciativa provocou descontentamento em outras áreas da
máquina federal. O presidente também colocou oficiais, da reserva e da ativa,
em postos tradicionalmente ocupados por civis - muitos dos quais indicações dos
partidos políticos.
A reforma reduziu os poderes do ministro
Luiz Eduardo Ramos, general da reserva, que deixou a Casa Civil rumo à
Secretaria-Geral da Presidência. Depois do ex-ministro da Saúde Eduardo
Pazuello, general da ativa, entrou na linha de tiro dos parlamentares o
ministro da Defesa, que durante grande parte da pandemia estava na Casa Civil
chefiando os esforços de combate à crise sanitária. O mesmo Braga Netto que
levou para a Defesa algumas das bandeiras políticas de Bolsonaro.
Os atritos tendem a perdurar. O Centrão sabe da força que acumulou e quanto Bolsonaro precisa de seu apoio. Ainda pode aproveitar a oportunidade para tentar conquistar para si a bandeira de grande lastro da democracia.
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