O Globo
A ida de Ciro Nogueira para a Casa Civil
muda o desenho dos negócios em Brasília. Até aqui, o Centrão se limitava a
fazer escambo: alugava apoio parlamentar e sacava sua parte em cargos e
benesses. Agora o bloco vai trocar o balcão pela gerência da loja. Passará a
mandar sem intermediários.
O chefão do PP se reaproximou do poder em
junho de 2020, quando Jair Bolsonaro começou a sentir o cheiro do impeachment.
Para socorrê-lo, Nogueira exigiu o comando do Fundo Nacional de Desenvolvimento
da Educação. A autarquia cuida de temas que não costumam emocionar os políticos,
como a aquisição de livros didáticos e a organização do transporte escolar. Seu
segredo está no orçamento, que ultrapassa os R$ 50 bilhões anuais.
Em fevereiro deste ano, Bolsonaro ajudou outro pepista, Arthur Lira, a se eleger presidente da Câmara. A ascensão do deputado aumentou o poder de barganha do Centrão. O grupo capturou o Ministério da Cidadania, abocanhou a Secretaria de Governo e agora assume a Casa Civil, coração da máquina federal.
No presidencialismo brasileiro, o chefe da
Casa Civil acumula poderes próximos aos de um premiê. Coordena os ministérios,
comanda investimentos em infraestrutura e filtra o que sai no Diário Oficial. É
o cargo dos sonhos para quem gosta de políticas públicas e para quem busca
outros tipos de recompensa do poder.
Para acomodar Nogueira, o capitão chutou
mais um general: Luiz Eduardo Ramos será rebaixado a secretário-geral da
Presidência. O militar se disse “atropelado por um trem”, mas não demorou a
recuperar os sentidos. Horas depois da demissão, sorria ao lado do chefe num
estádio de futebol.
O novo ministro é um bolsonarista tardio.
Há três anos e meio, descrevia o capitão como “um fascista”. Seu modelo de
estadista era Lula, “o melhor presidente da história deste país”. A seu favor,
ele não é o único a mudar repentinamente de opinião.
Na campanha, Bolsonaro prometeu combater a “velha política” e definiu o Centrão como “a nata do que há de pior no Brasil”. Ontem ele escancarou que o personagem vendido em 2018 era pura ficção. “Eu sou do Centrão”, disse. “Eu nasci de lá.” Ao autografar a nomeação de Nogueira, o presidente assinará mais um recibo de estelionato eleitoral.
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