Professor aposentado da Unicamp foi internado em 11 de junho no Incor, diagnosticado com Covid-19
Ivan Martínez-Vargas / O Globo
SÃO PAULO - Morreu na tarde desta
quinta-feira (22) em São Paulo, aos 75 anos, o filósofo e escritor Roberto
Romano, intelectual público e professor titular aposentado de ética e política
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Romano estava internado no Instituto do
Coração (Incor) desde 11 de junho para tratar de uma infecção de Covid-19.
Segundo nota do hospital, o professor
"evoluiu nas últimas semanas com quadro clínico grave, que culminou em
falência de múltiplos órgãos".
O professor graduou-se em filosofia na
Universidade de São Paulo (USP), em 1973, e fez doutorado na L’École des Hautes
Études en Scienses Sociales, na França, entre 1974 e 1978.
Romano ingressou na Unicamp em 1985 e
obteve o título de livre docente dez anos depois. Fez carreira e se aposentou
no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da universidade.
Também na instituição, foi presidente da
Comissão de Perícia que analisou milhares de ossadas encontradas no cemitério
clandestino de Perus, em São Paulo, onde a ditadura militar escondeu restos
mortais de vítimas do regime.
"Nossa universidade lamenta profundamente o falecimento do professor Roberto Romano", disse o reitor da Unicamp, Antonio José Meirelles, em nota. "(Ele) sempre se caracterizou pela defesa do ensino público e das nossas instituições de fomento à ciência e tecnologia."
Romano nasceu em Jaguapitã, no interior do
Paraná, mas mudou-se ainda na adolescência para Marília, onde militou na
Juventude Estudantil Católica. Foi frei dominicano por 12 anos, tendo ingressado
no convento em Juiz de Fora (MG) aos 20 anos. Antes, chegou ainda a militar na
organização de esquerda Ação Popular (AP), de oposição à ditadura militar.
Em 1969, enquanto ainda era frei e era
aluno da graduação em filosofia na USP, foi preso por agentes da repressão do
regime militar na saída de um convento dominicano no bairro do Leme, no Rio.
Transferido a São Paulo, chegou a ser
torturado pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury e acusado de envolvimento com a
Aliança Libertadora Nacional (ALN), liderada por Carlos Marighella. Romano foi
mantido por mais de um ano no presídio Tiradentes, em São Paulo, antes de ser
absolvido por um tribunal composto por militares.
Após deixar a vida religiosa, Romano
casou-se com a socióloga Maria Sylvia de Carvalho Franco, também professora da
Unicamp.
Defensor da democracia, o professor
dedicou-se prioritariamente ao estudo de temas como ética, religião, regimes
democráticos e crise política. Entre seus livros destacam-se as obras
"Brasil: Igreja Contra Estado", "Conservadorismo
Romântico", "Silêncio e Ruído: A Sátira e Denis Diderot" e
"Razão de Estado e Outros Estados da Razão".
Nas redes sociais, políticos e acadêmicos
lamentaram a morte de Romano.
"Mais uma perda nesse tempo em que
tudo demora em ser tão ruim: meu amigo de juventude (...)Roberto Romano (...).
Estudioso da alma humana, crítico desse governo das trevas, (...) deixa um
rastro de luz", escreveu Chico Alencar (PSOL), o vereador do Rio.
"Perdemos para a Covid o filósofo e professor Roberto Romano, 75, intelectual brilhante, sério, pensador de esquerda com olhos modernos", postou o ex-deputado Xico Graziano (PSDB).
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