sexta-feira, 23 de julho de 2021

Morre aos 75 anos o filósofo Roberto Romano, defensor da democracia

Professor aposentado da Unicamp foi internado em 11 de junho no Incor, diagnosticado com Covid-19

Ivan Martínez-Vargas / O Globo

SÃO PAULO - Morreu na tarde desta quinta-feira (22) em São Paulo, aos 75 anos, o filósofo e escritor Roberto Romano, intelectual público e professor titular aposentado de ética e política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Romano estava internado no Instituto do Coração (Incor) desde 11 de junho para tratar de uma infecção de Covid-19.

Segundo nota do hospital, o professor "evoluiu nas últimas semanas com quadro clínico grave, que culminou em falência de múltiplos órgãos".

O professor graduou-se em filosofia na Universidade de São Paulo (USP), em 1973, e fez doutorado na L’École des Hautes Études en Scienses Sociales, na França, entre 1974 e 1978.

Romano ingressou na Unicamp em 1985 e obteve o título de livre docente dez anos depois. Fez carreira e se aposentou no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da universidade.

Também na instituição, foi presidente da Comissão de Perícia que analisou milhares de ossadas encontradas no cemitério clandestino de Perus, em São Paulo, onde a ditadura militar escondeu restos mortais de vítimas do regime.

"Nossa universidade lamenta profundamente o falecimento do professor Roberto Romano", disse o reitor da Unicamp, Antonio José Meirelles, em nota. "(Ele) sempre se caracterizou pela defesa do ensino público e das nossas instituições de fomento à ciência e tecnologia."

Romano nasceu em Jaguapitã, no interior do Paraná, mas mudou-se ainda na adolescência para Marília, onde militou na Juventude Estudantil Católica. Foi frei dominicano por 12 anos, tendo ingressado no convento em Juiz de Fora (MG) aos 20 anos. Antes, chegou ainda a militar na organização de esquerda Ação Popular (AP), de oposição à ditadura militar.

Em 1969, enquanto ainda era frei e era aluno da graduação em filosofia na USP, foi preso por agentes da repressão do regime militar na saída de um convento dominicano no bairro do Leme, no Rio.

Transferido a São Paulo, chegou a ser torturado pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury e acusado de envolvimento com a Aliança Libertadora Nacional (ALN), liderada por Carlos Marighella. Romano foi mantido por mais de um ano no presídio Tiradentes, em São Paulo, antes de ser absolvido por um tribunal composto por militares.

Após deixar a vida religiosa, Romano casou-se com a socióloga Maria Sylvia de Carvalho Franco, também professora da Unicamp.

Defensor da democracia, o professor dedicou-se prioritariamente ao estudo de temas como ética, religião, regimes democráticos e crise política. Entre seus livros destacam-se as obras "Brasil: Igreja Contra Estado", "Conservadorismo Romântico", "Silêncio e Ruído: A Sátira e Denis Diderot" e "Razão de Estado e Outros Estados da Razão".

Nas redes sociais, políticos e acadêmicos lamentaram a morte de Romano.

"Mais uma perda nesse tempo em que tudo demora em ser tão ruim: meu amigo de juventude (...)Roberto Romano (...). Estudioso da alma humana, crítico desse governo das trevas, (...) deixa um rastro de luz", escreveu Chico Alencar (PSOL), o vereador do Rio.

"Perdemos para a Covid o filósofo e professor Roberto Romano, 75, intelectual brilhante, sério, pensador de esquerda com olhos modernos", postou o ex-deputado Xico Graziano (PSDB).

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