O Globo
Ao final de “Casablanca”, o chefe da
polícia, malandro, sempre jogando a sujeira debaixo do tapete, perpetra:
— Prendam os suspeitos de sempre.
No caso das estranhíssimas votações
comandadas pelo coronel Lira, ficaria assim:
— Tragam o Aécio.
Por trás de qualquer malfeitoria, nos
últimos anos, haverá a digital do deputado. Depois de se enfurnar tarde da
noite no quarto de Joesley Batista, deu para estar enfileirado aos
bozofrênicos. Em Minas e no Baixo Leblon, já se afirma:
— De madrugada, todos os gatos miam aecim.
Desta vez, não esteve só. Trouxe junto toda a bancada mineira do PSDB para aninhar-se no colo do coronel Lira e pavimentar a reeleição do Bozo e dos frentistas do Centrão. É de perguntar: que oposição é essa, meu filho? Como são surdos, entenderão se tratar de posição, para esclarecer: de quatro, capitão.
A votação da PEC do Calote (já
inesquecível, porque feita por um liberal de Chicago, a escola econômica que
matou mais do que Al Capone) evidenciou em quase todos os partidos de oposição
a figura do quinta-coluna.
O PT, que vinha numa dobradinha com os
bozofrênicos, abriu os olhos e votou em peso contra o calote. Mas o passado
condena (esse verbo deve doer nos ouvidos menos moucos) o partido. Difícil eles
se emendarem.
O termo quinta-coluna, reza a lenda, surgiu
durante a Guerra Civil espanhola, em 1936. Franco atacava numa formação de
quatro fileiras — e a quinta (invisível) seria daqueles que diziam apoiar a
Constituição, mas, ao fim e ao cabo, estavam ao lado dos golpistas contra a
República.
O caso espanhol é simbólico, porque
corporifica o quinta-coluna também à esquerda. Então aliado aos trotskistas,
Stálin ordenou a morte de seus companheiros de luta. Preferiu matar seguidores
do banido Leon Trótski a ver a derrota de Franco. (Entre outros, a história é
contada pelo ótimo George Orwell.)
Em tempo presente, é o caso de Aécio:
desejoso de derrotar João Doria, faz fileira com Bozo. É uma oposição do tipo
branca. Para esconder sua humilhante derrota em Minas diante de Dilma Rousseff,
tratou de lançar dúvidas contra as urnas eletrônicas. Tá vendo? Bozo é aecim
desde criancinha.
O quinta-coluna de hoje encontra guarida em
todos os partidos de oposição. Até numa coisa esdrúxula como o Partido da Causa
Operária. Aliás, o PCO é todo um quinta-coluna — saudar a volta do Talibã ao
poder, para se opor aos Estados Unidos, é acreditar que o coronel Lira e o
Guedes agora querem proteger os pobres ao forjar a PEC do Calote. Como Bozo,
também acreditaram ser censura o bloqueio de Trump nas redes sociais.
É que as convicções, no Brasil, são tão
vagas quanto as franjas de Eduardo Bananinha. Para ganhar o poder, ou mantê-lo,
às favas a coerência ou a honestidade.
Dias atrás, o PT esteve alinhado aos
bozofrênicos na tentativa de mudar a composição do Conselho Nacional do
Ministério Público. A ideia das duas correntes, numa postura angelical, de quem
foge da cadeia, sugeria o Congresso aumentar seu poder no órgão de fiscalização
dos promotores.
Quá-quá-quá.
Basta fechar os olhos e imaginar os
partidos indicando um sabujo como o senador Luis Carlos Heinze. Como poderia
ser o afamado Ricardo Barros, agora também um veemente defensor dos pobres e
descamisados.
O problema não são os políticos ou os
partidos. Metade da bancada do PSDB defender o voto impresso bozonarista ou os
deputados do PT, seguindo a zureta Zambelli, perfilarem na defesa da nova Lei
de Improbidade Administrativa, a que dificulta a punição dos políticos, é
expressão escarrada e acabada da sociedade contemporânea.
Do mesmo jeito que o Brasil não conhece o Brasil,
o Brasil não gosta de se ver no espelho. A ditadura militar não ocorreu apenas
por vontade dos generais. Foi um desejo (em passeatas, missas e orações) de
parte expressiva da sociedade. Por que os torturadores, aqueles que também
matavam, não foram punidos (com beneplácito do STF)? A censura às obras
artísticas seguia na mesma linha. Preferiam o “eu te amo, meu Brasil” ao “na
barriga da miséria nasci brasileiro”. Era o desejo pelo atraso autoritário tão
verde e amarelo.
De outro lado, pode-se dizer que o quadro
societário tem piorado com o tempo. Foram escolhas da sociedade. Sempre.
Pode-se culpar a educação — antes havia o brigadeiro Eduardo Gomes, hoje há o
general Augusto Heleno.
Como se pode culpar a fé nos homens — onde
antes houve um Dom Paulo Evaristo Arns hoje há um Silas Malafaia. Junto da
Flordelis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário