No período, a energia atômica tornou-se popular nos campos energético e da medicina, e desenvolveram-se tecnologias espaciais. Com elas, a construção de foguetes e de ogivas nucleares de longo alcance . Era a chamada "corrida armamentista", implementada com o apoio de grandes empresas . As ameaças viriam agora do céu. Santo Deus!... Desse cenário iriam surgir novas lideranças políticas, que ignoravam totalmente a morte de 60 milhões de cidadãos, soldados e civis, mulheres, velhos e crianças, durante a segunda guerra: "É apenas uma estatística", ponderava Josef Stalin, líder da União Soviética (1927-1953).
Aumentou o temor de mais uma guerra , agora alavancada por uma sofisticada escalada de inovação armamentista , com alto poder de destruição . Coube à ONU - Organização das Nações Unidas e, alternativamente, a expansão do comercio mundial, controlado pela OMC - Organização Mundial do Comércio (ex-GATT), amenizar as pressões no mundo conduzidas sob a influência de países historicamente belicosos . Rússia e EUA cultivavam e cultuavam os novos artefatos de destruição em massa., mantendo uma disputa aberta pela hegemonia no Planeta. Tudo acontecia, contudo, a nível de discurso, acrescido de algumas sabotagens a um e outro. Foi a chamada "Guerra Fria". Acreditava-se que o crescimento da capacidade armamentista servia para dissuadir às ameaças contenciosas .
O modelo empoderava indivíduos empreendedores e líderes políticos mais ousados, sem compromissos com o passado. Desde 1976, com a morte de Mao Tsé Tung, a China, teve esvaziados os vínculos ortodoxos com o regime comunista. A seguir, em 1991, a URSS se desagregou. Os EUA passaram a capitanear as relações econômicas e sociais no mundo, com a ajuda do Grupo dos Sete (G7) , constituído pelos países mais industrializados e de regimes democráticos: - EUA, Inglaterra, Canadá, França, Japão, Alemanha e Itália. Até por serem excluídas do G7, emergiram no cenário novas lideranças , que passaram a defender uma nova ordem internacional .
Emergiu então um modelo global
de intercâmbio e de blocos regionais para administrar os desequilíbrios .
O crescimento das populações, a má distribuição de renda e de
alimentos , os desperdícios , os serviços básicos insuficientes e as chantagens
contra a humanidade (elevação dos preços do petróleo), geraram endividamentos e
déficits contábeis que faziam empacar o sonho do desenvolvimento
nos países emergentes, até que, em 2009, o BRICS aflorou ,
reunindo Brasil(B), Rússia(R), Índia(I)e China(C), agregando-se, depois,
à sigla um "S", ao incorporar a África do Sul. Seria um bloco que
defendia uma reação explícita à continuidade neocolonial no
mundo, propagando uma ação comum para conseguir
"paridade" de interesses e frustrações, voltados para
corrigir o equilíbrio geopolítico.
A semana passada (23 e 24 de 2023), foi realizada, em Johanesburgo, na África, a 15a reunião de cúpula (presidentes) do BRICS , sem o Putin, acusado no Ocidente de sequestrar 200 crianças ucranianas. Mas no encontro foram incorporadas, perifericamente, à organização a Arábia Saudita, o Irã, a Argentina, os Emirados, Egito e a Etiópia, formando um espécie de G11 . As promessas retóricas de multipolaridade e multiculturalidade atraiu cerca de 80 países, pedindo o ingresso o BRICS. Atropela-se , de certa forma, a Organização das Nações Unidas, que congrega 193 países, o Banco Mundial (com o Banco do BRICS), a Organização Mundial do Comércio, o Fundo Monetário Internacional, e os bancos de compensação de valores. São instituições que operam em rede no mundo à busca desse equilíbrio geopolítico. Vozes do BRICS, entendem diferente. Trata-se de uma acumulação de poder nas mãos de grandes corporações e fundos de investimento, que impõem a submissão dos povos à uma pedagogia colonial remanescente.
Daí que a ideia de um BRICS constituído por países de "economia emergentes" surge sedutora, embora alguns membros precisem abandonar os históricos beligerantes, e repensar seus ordenamentos , por não praticarem exatamente a democracia e nem militarem efetivamente na proteção dos direitos dos pobres, da igualdade étnica, de gênero e das minorias , tipicidades de uma ordem especificamente democrática.
Dentro do Grupo, justamente os fundadores líderes do BRICS - Rússia e China - obstruem e reprimem em seus países a liberdade de expressão, oprimindo as individualidades , além de não refletirem a vontade popular majoritária. A democracia nesses países tem mais relativismo do que o anunciado pelo presidente brasileiro. O conceito praticado abriga as conveniências de quem está no Poder ou dos grupos corporativos e ideológicos aos quais está vinculado . Os traços de intolerância social e política são claros. A impressão é a de que os países líderes no bloco, pretenderiam tornarem-se hegemônicos em uma nova ordem mundial sob a gestão do BRICS. Além do empoderamento financeiro (China) e bélico (Rússia), a proposta em discussão é desmontar o sistema de transações e pagamentos correntes, criando uma moeda própria dentro de uma nova ordem . A maioria da reservas internacionais, inclusive dos membros do BRICS, amparam-se no dólar norte-americano, por ambiguamente confiarem na sua estabilidade política e no seu PIB.
Surgem dúvidas. Seriam absorvidos pelo bloco do BRICS os elevados déficits no balanço de pagamentos dos membros, os seguidos calotes dos argentinos , ou aqueles gerados pelos fortes gastos da Rússia com as guerras ? O Egito está praticamente quebrado. O Brasil tem um enorme déficit em conta corrente. As economias chinesa e russa estão oscilando para baixo. A invasão da Ucrânia teria legitimidade dentro do BRICS, já que os novos membros não tem compromissos com a OTAN- Organização do Tratado do Atlântico Norte? São muitas as perguntas . Quem e o que será a referência garantidora das transações comerciais e monetárias dentro do bloco? O euro é desqualificado dentro do bloco. Alternativas já foram pensadas com o marco alemão, o yen japonês, inclusive com o ouro. Não vingaram.
Nesse cenário de insegurança , é difícil encontrar alguém, a curto prazo, com lastro econômico e credibilidade política para assumir a garantia dos pagamentos internacionais com a suposta e nova moeda. As reservas do Brasil, os ativos do BNDES e do Fundo Amazônico estão no bolo. Ninguém fala sobre isso. O pretenso desmonte de instituições internacionais pode trazer complicações não só para o grupo , mas para o mundo inteiro: uma desarrumação geral. Então, não apenas o regime democrático está sob ameaça . Alguns membros do BRICS mantém conflitos históricos com a vizinhança - Arábia e Irã, Índia e China e até Rússia e China. A organização poderá, portanto, levar tudo a uma espécie de "ataxia hereditária - doença do sistema nervoso e cerebral .
* Jornalista e professor
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