Valor Econômico
Os mercados de trabalho, ao contrário da maioria dos mercados de produtos, são locais. As pessoas não simplesmente arrancam suas raízes e vão caçar emprego noutro lugar
Uma característica marcante da política dos
Estados Unidos hoje é a fuga dos “trabalhadores” - ou seja, em geral operários
ou funcionários - do Partido Democrata. Durante muitas décadas após o New Deal,
os democratas eram o partido que defendia os sindicatos, a segurança no local
de trabalho e o salário mínimo, e os republicanos eram os campeões das
empresas.
No entanto, segundo o Gallup, a proporção de republicanos que se identificam como “classe trabalhadora” ou “classe baixa” cresceu de 27% em 2002 para 46% atualmente, enquanto a parcela de democratas da classe trabalhadora caiu ligeiramente (de 37% para 35%). Além disso, enquanto 46% dos eleitores brancos de famílias sindicalizadas apoiavam os democratas em 1968, essa proporção caiu para cerca de 33% em 2020, quase empatando com os republicanos. Desde a década de 1990, as pessoas em locais mais pobres e da classe trabalhadora têm preferido cada vez mais os republicanos aos democratas.
A explicação comum para essa mudança é o
surgimento do “neoliberalismo”: a ideologia pró-mercado que prevaleceu nos
círculos políticos da década de 1980 até o início dos anos 2000. Os neoliberais
promoveram a desregulamentação e a globalização por meio do apoio ao livre
comércio, fluxos irrestritos de capital e migração máxima. Embora os
republicanos tenham promovido as políticas neoliberais com mais afinco do que
os democratas, os democratas acabaram adotando-as. Uma vez que os partidos já
não divergiam muito em relação às políticas econômicas, os trabalhadores se
voltaram para os republicanos, que eram mais receptivos às suas preocupações
religiosas e morais, sobretudo sua hostilidade à imigração.
Alguns culpam os democratas por confiarem
demais nos economistas. Mas a ciência triste (termo pejorativo para se referir
à economia) em si não foi o problema. Um diagnóstico mais preciso é que as
políticas neoliberais refletiam certas suposições peculiares feitas por um
grupo de economistas especialmente influentes, embora outros observadores,
mesmo dentro da economia, sempre reconhecessem as falhas em sua abordagem.
Por exemplo, um pressuposto neoliberal
sustenta que os mercados de trabalho são quase sempre competitivos. Essa visão
teve implicações políticas de longo alcance, pois os custos das políticas
neoliberais, como o livre comércio, estão concentrados entre os trabalhadores
dos setores expostos ao comércio. Até recentemente, supunha-se que os custos
para esses trabalhadores deveriam ser menores. Os trabalhadores não
qualificados encontrariam novos empregos com o mesmo salário e, embora os mais
qualificados pudessem sofrer algumas perdas, eles poderiam usar suas
habilidades em outros setores ou receber capacitação financiada em parte pelo
governo.
Em vez disso, pesquisas recentes confirmam o
que muitos não economistas chamariam de senso comum: perder o emprego tem
efeitos psicológicos e financeiros devastadores. Os mercados de trabalho, ao
contrário da maioria dos mercados de produtos, são locais. As pessoas não
simplesmente arrancam suas raízes e vão caçar emprego noutro lugar; e os
empregos são muito mais importantes para as pessoas do que bens ou serviços. O
fechamento de uma fábrica em uma pequena comunidade pode destruir essa
comunidade, e não só os meios de subsistência de seus funcionários.
Uma hipótese relacionada é que as políticas
econômicas devem ser adotadas se sobreviverem a um teste de custo-benefício. No
entanto, embora esta análise seja uma ferramenta essencial para a avaliação de
políticas, ela fornece uma orientação ruim quando usada de forma superficial.
Desde a década de 1980, os formuladores de políticas de órgãos como a Agência
de Proteção Ambiental têm sido obrigados a realizar uma análise de
custo-benefício sempre que emitem regulamentações, e esses cálculos quase
sempre minimizam o impacto sobre os empregos.
Por exemplo, uma regulamentação
bem-intencionada que reduz a poluição considera os benefícios para a saúde dos
cidadãos e os custos de conformidade dos poluidores, mas não os efeitos sobre
os que perderão empregos devido à mudança na política. É provável que essa
omissão também se baseie na falsa suposição de que os mercados de trabalho são
invariavelmente competitivos e que os trabalhadores sempre podem mudar de
emprego a um custo baixo.
Uma vez que os partidos passaram a não
divergir muito em relação às políticas econômicas neoliberais, os trabalhadores
se voltaram para os republicanos, que eram mais receptivos às suas preocupações
religiosas e morais, sobretudo sua hostilidade à imigração
Essa mesma suposição também levou os
democratas a diminuir seu apoio aos sindicatos. No passado, os sindicatos eram
amplamente considerados como campeões da classe trabalhadora. Para a mente
neoliberal, isso era impossível. Se os mercados de trabalho são competitivos,
então os prêmios salariais obtidos pelos sindicatos só poderiam aumentar os
preços ao consumidor e reduzir a produção econômica. Hoje, o valor dos
sindicatos está sendo reconsiderado. Quando os empregadores têm poder de
mercado, os sindicatos podem ser o melhor meio de melhorar o bem-estar dos
trabalhadores sem sacrificar a eficiência econômica.
A economia foi gravemente manchada por seu
papel de protagonista na ascensão do neoliberalismo. A ironia é que a economia
acadêmica nunca endossou a análise de custo-benefício, porque não há base
neutra ou científica para justificar políticas que beneficiam algumas pessoas e
prejudicam outras. A longa busca por um critério neutro se esgotou na década de
1970, quando os economistas enfim perceberam que os critérios de avaliação de
políticas se baseiam em premissas morais, e não econômicas. Desde então, a literatura
econômica revisada por pares raramente permite argumentos normativos, pois isso
prejudicaria as ambições científicas da disciplina.
No entanto, os economistas normalmente (e
muitas vezes de forma impensada) se baseiam na análise de custo-benefício ao
prescrever políticas e, como o público e os políticos não fazem distinção entre
o debate “acadêmico” e o “político”, os fracassos das políticas econômicas
diminuíram a credibilidade dos economistas. Esses acontecimentos também
alimentaram o ceticismo do público em relação a especialistas e tecnocratas de
todos os tipos.
De fato, durante grande parte do período
neoliberal, muitos economistas importantes reconheceram a rigidez e a falta de
concorrência dos mercados de trabalho. No entanto, só recentemente eles
começaram a avançar contra a tese de que os mercados de trabalho são
competitivos. Suspeita-se que os iminentes fracassos atribuídos ao
neoliberalismo - aumento da desigualdade, devastação das áreas rurais,
polarização política, instabilidade financeira - finalmente proporcionaram um
caminho para que as opiniões dissidentes chegassem aos formuladores de
políticas.
Há uma ironia dolorosa para os democratas que
nunca tiveram a intenção de abandonar os trabalhadores e acreditavam que as
políticas neoliberais os ajudariam reduzindo preços e aumentando o crescimento
econômico. Agora, embora os republicanos tenham feito muito menos pelos
trabalhadores, os eleitores da classe trabalhadora cada vez mais presumem que o
Partido Democrata não se importa com eles, que se tornou o partido das elites -
ou seja, exatamente como os republicanos. (Tradução de Fabrício Calado Moreira)
3 comentários:
Os sinais variados indicam a vitória do Trump , a mídia militante começa o seu lamento e a sua maldição contra o ex-presidente Americano
O chamar o eleitor do Trump de lixo não é problema, a maluca da Kamala Harris expulsar jovens que disseram que Deus é o Senhor é que Jesus Cristo é salvação também não tem problema para mídia esquerdista
A campanha dos democrata está naufragando
O Trump vai ganhar de lavada
O papagaio bolsonarista acima dizia que Bolsonaro ganharia de Lula no PRIMEIRO turno (ou seja, ia ganhar de lavada...).
Se o jumento petista acompanhasse a política internacional saberia do que eu estou falando , mas é querer demais com tanta ignorância
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