DEU EM O GLOBO
Após socorro, alta das "commodities" trouxe alívio a produtores brasileiros. Mas crescimento menor na Europa preocupa
Cássia Almeida e Eliane Oliveira
RIO e BRASÍLIA. O pacote de resgate de 750 bilhões de euros (US$ 1 trilhão) para conter a crise grega, trouxe alívio para o setor exportador brasileiro. Depois de fortes quedas na semana passada, as commodities recuperaram parte das perdas.
Mas, na avaliação de especialistas, o cenário a longo prazo não é tão alentador. Diante do ajuste fiscal que grande parte dos países europeus já anunciou, é dado como certo o crescimento menor ou até estagnação do bloco, que é o maior parceiro comercial do Brasil. No ano passado, 23% das nossas vendas externas tiveram a Europa como destino. Assim, além de menos exportações, a desaceleração também poderá levar à queda nas cotações das commodities mais para frente.
A União Europeia é a maior economia do mundo, se fica estagnada, todo mundo perde. A Alemanha terá que tomar medidas de austeridade.
Todos (os países) estão com déficit fiscal alto afirma o economista Marcelo Nonnenberg, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Europa deve crescer menos de 1% este ano O crescimento esperado para Europa este ano, segundo Nonnenberg, era de 1,5%. Agora deve ficar abaixo de 1%, inclusive no próximo ano, diz o economista.
Mas o socorro financeiro, que evitou que os países mais endividados da Europa fosse a nocaute, animou os exportadores.
A avaliação da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) é que o Brasil será beneficiado com a recomposição das exportações de commodities em geral, como minério de ferro, soja, açúcar e carnes bovina e de frango, que têm os europeus como principais compradores.
Na semana passada, as cotações das commodities estavam despencando e agora começam a se recuperar. O pacote foi excelente para o Brasil disse o vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro.
Ele citou como exemplos a soja e o petróleo, que aumentaram, respectivamente, 1% e 1,69%, na segunda-feira. Essa recuperação, porém, não foi suficiente para compensar o tombo da primeira semana de maio, de acordo com a RC Consultores.
Em relação à última semana de abril, a cotação da soja registrou queda de 3,87%. Já o preço do petróleo teve uma desvalorização de 12,81%, sendo negociado a por US$ 75,11 o barril.
O economista André Sacconato, da Tendências, diz que o socorro deixou os investidores mais animados: Agora sim, a Europa pôs a mão na massa, o que deixou o mundo mais otimista. Em situações de risco, as pessoas trocam compras e investimentos por títulos americanos.
Investimento direto foi de US$ 5,6 bilhões no 1° tri Além do impacto no comércio, a crise europeia já teve reflexo no fluxo de investimentos financeiros para o Brasil. Luís Afonso Lima, diretor-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), mostra os números desse abandono nas aplicações financeiras.
No último trimestre de 2009, o Brasil recebeu US$ 23,3 bilhões de investimento estrangeiro em ações e títulos de renda fixa. No três primeiros meses deste ano, o valor despencou para US$ 9,3 bilhões: E estou com dúvidas se conseguiremos receber os US$ 45 bilhões de investimento estrangeiro direto (recursos destinados à produção) previstos para 2010. No primeiro trimestre, entrou apenas US$ 5,6 bilhões.
Para Fábio Silveira, da RC Consultores, o momento ainda é de grande insegurança: Não acredito na eficácia desse pacote. A situação na Europa é medonha e o dinheiro vai impedir que a região afunde ainda mais. A recuperação europeia pode levar três anos. O menor crescimento do bloco europeu terá impactos sobre as exportações brasileiras.
O secretário adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Gilson Bittencourt, lembrou que uma crise sempre gera dificuldades em geral. O pacote de ajuda, enfatizou, deve evitar nova recessão.
Qualquer crise neste momento seria negativo para as economias como um todo, inclusive o Brasil, que é exportador de commodities para a Europa disse Bittencourt.
O professor da PUC-SP, Antonio Corrêa de Lacerda, está otimista. Diz que a crise na Europa não impedirá o crescimento forte do Brasil, entre 5% e 6%, se o Banco Central não aumentar os juros olhando só para a demanda dentro do país, desconsiderando o cenário externo: Mas, sem dúvida, os países emergentes, especialmente o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) e agregados vão puxar o crescimento do mundo nas próximas décadas.
Após socorro, alta das "commodities" trouxe alívio a produtores brasileiros. Mas crescimento menor na Europa preocupa
Cássia Almeida e Eliane Oliveira
RIO e BRASÍLIA. O pacote de resgate de 750 bilhões de euros (US$ 1 trilhão) para conter a crise grega, trouxe alívio para o setor exportador brasileiro. Depois de fortes quedas na semana passada, as commodities recuperaram parte das perdas.
Mas, na avaliação de especialistas, o cenário a longo prazo não é tão alentador. Diante do ajuste fiscal que grande parte dos países europeus já anunciou, é dado como certo o crescimento menor ou até estagnação do bloco, que é o maior parceiro comercial do Brasil. No ano passado, 23% das nossas vendas externas tiveram a Europa como destino. Assim, além de menos exportações, a desaceleração também poderá levar à queda nas cotações das commodities mais para frente.
A União Europeia é a maior economia do mundo, se fica estagnada, todo mundo perde. A Alemanha terá que tomar medidas de austeridade.
Todos (os países) estão com déficit fiscal alto afirma o economista Marcelo Nonnenberg, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Europa deve crescer menos de 1% este ano O crescimento esperado para Europa este ano, segundo Nonnenberg, era de 1,5%. Agora deve ficar abaixo de 1%, inclusive no próximo ano, diz o economista.
Mas o socorro financeiro, que evitou que os países mais endividados da Europa fosse a nocaute, animou os exportadores.
A avaliação da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) é que o Brasil será beneficiado com a recomposição das exportações de commodities em geral, como minério de ferro, soja, açúcar e carnes bovina e de frango, que têm os europeus como principais compradores.
Na semana passada, as cotações das commodities estavam despencando e agora começam a se recuperar. O pacote foi excelente para o Brasil disse o vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro.
Ele citou como exemplos a soja e o petróleo, que aumentaram, respectivamente, 1% e 1,69%, na segunda-feira. Essa recuperação, porém, não foi suficiente para compensar o tombo da primeira semana de maio, de acordo com a RC Consultores.
Em relação à última semana de abril, a cotação da soja registrou queda de 3,87%. Já o preço do petróleo teve uma desvalorização de 12,81%, sendo negociado a por US$ 75,11 o barril.
O economista André Sacconato, da Tendências, diz que o socorro deixou os investidores mais animados: Agora sim, a Europa pôs a mão na massa, o que deixou o mundo mais otimista. Em situações de risco, as pessoas trocam compras e investimentos por títulos americanos.
Investimento direto foi de US$ 5,6 bilhões no 1° tri Além do impacto no comércio, a crise europeia já teve reflexo no fluxo de investimentos financeiros para o Brasil. Luís Afonso Lima, diretor-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), mostra os números desse abandono nas aplicações financeiras.
No último trimestre de 2009, o Brasil recebeu US$ 23,3 bilhões de investimento estrangeiro em ações e títulos de renda fixa. No três primeiros meses deste ano, o valor despencou para US$ 9,3 bilhões: E estou com dúvidas se conseguiremos receber os US$ 45 bilhões de investimento estrangeiro direto (recursos destinados à produção) previstos para 2010. No primeiro trimestre, entrou apenas US$ 5,6 bilhões.
Para Fábio Silveira, da RC Consultores, o momento ainda é de grande insegurança: Não acredito na eficácia desse pacote. A situação na Europa é medonha e o dinheiro vai impedir que a região afunde ainda mais. A recuperação europeia pode levar três anos. O menor crescimento do bloco europeu terá impactos sobre as exportações brasileiras.
O secretário adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Gilson Bittencourt, lembrou que uma crise sempre gera dificuldades em geral. O pacote de ajuda, enfatizou, deve evitar nova recessão.
Qualquer crise neste momento seria negativo para as economias como um todo, inclusive o Brasil, que é exportador de commodities para a Europa disse Bittencourt.
O professor da PUC-SP, Antonio Corrêa de Lacerda, está otimista. Diz que a crise na Europa não impedirá o crescimento forte do Brasil, entre 5% e 6%, se o Banco Central não aumentar os juros olhando só para a demanda dentro do país, desconsiderando o cenário externo: Mas, sem dúvida, os países emergentes, especialmente o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) e agregados vão puxar o crescimento do mundo nas próximas décadas.
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