DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, não é claro e fica especialmente desconfortável quando a pergunta dos jornalistas toma o rumo do que pensa sobre autonomia do Banco Central e sobre política monetária. Foi o que se viu na entrevista que deu segunda-feira à rádio CBN, em resposta a questões da colunista Míriam Leitão.
Todos sabemos que Serra tem sido crítico contumaz não só da política monetária, mas, também, da política cambial. E isso não é coisa recente. Vem dos tempos em que foi ministro do Planejamento do governo Fernando Henrique.
Afora isso, em janeiro, o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra, avisou na revista Veja que, com Serra na Presidência, haveria mudanças no câmbio e nos juros. Até agora ninguém ficou sabendo o que seriam essas mudanças nem o que significariam. Parece, portanto, natural que o eleitor queira conhecer melhor o pensamento do pré-candidato José Serra em matéria de tamanha importância para a definição da política econômica do próximo governo.
Não basta ele dizer que "não vai virar a mesa" e que vai respeitar o atual tripé: responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e sistema de metas de inflação. É preciso saber até mesmo o que é essa mesa a que se refere e o que, no seu entendimento, seria virá-la. Serra argumenta que tem todo o direito de criticar o Banco Central "quando comete erros calamitosos".
Ninguém discorda, em princípio, de uma afirmação desse tipo. Não há como negar que, durante a administração Lula, o Banco Central cometeu erros. Foram especialmente erros de dosagem e de timing. Mas daí a dizer que foram erros capazes de produzir calamidades vai uma distância enorme. O simples diagnóstico de que tenham sido erros graves sugere que o pré-candidato esclareça o que pensa sobre política monetária, sistema de metas de inflação e os atuais modelos de avaliação do Banco Central.
Não basta que repita que "o Banco Central não é a Santa Sé". É preciso saber, também, o que deve ser considerado erro calamitoso a ponto de merecer não apenas críticas, mas até mesmo uma intervenção na condução de sua política.
Em suas manifestações anteriores, o economista José Serra não escondeu seu ponto de vista de que a mãe de todos os males da economia brasileira esteja na condução equivocada da política fiscal. Quase sempre é o desequilíbrio das contas públicas que gera inflação. Sua natureza é, portanto, fiscal e, assim, requer tratamento também fiscal. No entanto, a falta de determinação deste governo na administração das contas públicas acaba deixando para o Banco Central a tarefa ingrata de atacar a inflação com o único instrumento de que dispõe, que é a política de juros. Essa parece ser, também, a razão pela qual o Brasil convive com o que se convencionou chamar de "os juros mais altos do mundo".
Por isso, é de se esperar também que, uma vez à frente do governo federal, José Serra se empenhe para que a política fiscal não deixe encrencas a serem atacadas pela política monetária. Se for assim, os juros cairão mais ou menos naturalmente, sem que o Banco Central seja obrigado a forçar a mão.
E , se é verdade que Serra entende que a administração pública deve fluir assim, e não à força de intervenções, convém também saber o que pensa a respeito dos limites da autonomia do Banco Central.
Confira
Mergulho
O pacotão de quase US$ 1 trilhão para socorrer as economias da União Europeia em dificuldades e blindar o euro não está produzindo os resultados esperados pelos chefes de Estado. É o que explica o aprofundamento da queda das cotações do euro.
Dinheiro virtual
Tudo se passa como se esses recursos ainda não estivessem à disposição. Contam apenas com a garantia dos países do euro, alguns em má situação. Terão de ser buscados no mercado financeiro, sem que fique previamente claro como os países devedores formarão a poupança que se destinará a pagar essa dívida.
O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, não é claro e fica especialmente desconfortável quando a pergunta dos jornalistas toma o rumo do que pensa sobre autonomia do Banco Central e sobre política monetária. Foi o que se viu na entrevista que deu segunda-feira à rádio CBN, em resposta a questões da colunista Míriam Leitão.
Todos sabemos que Serra tem sido crítico contumaz não só da política monetária, mas, também, da política cambial. E isso não é coisa recente. Vem dos tempos em que foi ministro do Planejamento do governo Fernando Henrique.
Afora isso, em janeiro, o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra, avisou na revista Veja que, com Serra na Presidência, haveria mudanças no câmbio e nos juros. Até agora ninguém ficou sabendo o que seriam essas mudanças nem o que significariam. Parece, portanto, natural que o eleitor queira conhecer melhor o pensamento do pré-candidato José Serra em matéria de tamanha importância para a definição da política econômica do próximo governo.
Não basta ele dizer que "não vai virar a mesa" e que vai respeitar o atual tripé: responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e sistema de metas de inflação. É preciso saber até mesmo o que é essa mesa a que se refere e o que, no seu entendimento, seria virá-la. Serra argumenta que tem todo o direito de criticar o Banco Central "quando comete erros calamitosos".
Ninguém discorda, em princípio, de uma afirmação desse tipo. Não há como negar que, durante a administração Lula, o Banco Central cometeu erros. Foram especialmente erros de dosagem e de timing. Mas daí a dizer que foram erros capazes de produzir calamidades vai uma distância enorme. O simples diagnóstico de que tenham sido erros graves sugere que o pré-candidato esclareça o que pensa sobre política monetária, sistema de metas de inflação e os atuais modelos de avaliação do Banco Central.
Não basta que repita que "o Banco Central não é a Santa Sé". É preciso saber, também, o que deve ser considerado erro calamitoso a ponto de merecer não apenas críticas, mas até mesmo uma intervenção na condução de sua política.
Em suas manifestações anteriores, o economista José Serra não escondeu seu ponto de vista de que a mãe de todos os males da economia brasileira esteja na condução equivocada da política fiscal. Quase sempre é o desequilíbrio das contas públicas que gera inflação. Sua natureza é, portanto, fiscal e, assim, requer tratamento também fiscal. No entanto, a falta de determinação deste governo na administração das contas públicas acaba deixando para o Banco Central a tarefa ingrata de atacar a inflação com o único instrumento de que dispõe, que é a política de juros. Essa parece ser, também, a razão pela qual o Brasil convive com o que se convencionou chamar de "os juros mais altos do mundo".
Por isso, é de se esperar também que, uma vez à frente do governo federal, José Serra se empenhe para que a política fiscal não deixe encrencas a serem atacadas pela política monetária. Se for assim, os juros cairão mais ou menos naturalmente, sem que o Banco Central seja obrigado a forçar a mão.
E , se é verdade que Serra entende que a administração pública deve fluir assim, e não à força de intervenções, convém também saber o que pensa a respeito dos limites da autonomia do Banco Central.
Confira
Mergulho
O pacotão de quase US$ 1 trilhão para socorrer as economias da União Europeia em dificuldades e blindar o euro não está produzindo os resultados esperados pelos chefes de Estado. É o que explica o aprofundamento da queda das cotações do euro.
Dinheiro virtual
Tudo se passa como se esses recursos ainda não estivessem à disposição. Contam apenas com a garantia dos países do euro, alguns em má situação. Terão de ser buscados no mercado financeiro, sem que fique previamente claro como os países devedores formarão a poupança que se destinará a pagar essa dívida.
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