“ Tocqueville se apercebeu das mudanças que se avizinhavam com o advento da “era americana”, nos costumes, na economia e na política, ao haver escrito décadas antes e mesmo com maior profundidade e menos nostalgia do que Nabuco. Não podia nutrir nostalgia porque continuava a sentir-se muito bem no papel de aristocrata que entendia o processo social, mas tudo fazia para que as forças novas não perturbassem o equilíbrio tradicional das coisas. Analisou como ninguém o quê da democracia na América (o”espírito de liberdade”, que permitia a associação das pessoas para realizar fins coletivos independentemente da autoridade, a religiosidade agregadora dos protestantes, a força das comunidades locais e ainda a liberdade de imprensa). Em seu íntimo, contudo, nunca deixou de ser um “do antigo regime”. Via na democracia de massas o perigo do autoritarismo, a igualdade induziria a uma forma de tirania. Já Nabuco irmanou-se intimamente com o negro e se tornou simpático às características democráticas da nova sociedade, embora nunca tenha aceitado as formas republicanas no Brasil e tivesse confundido o “poder pessoal” do Imperador, tão duramente criticado por Sergio Buarque, como se fosse uma formas branda de exercer o poder moderador e de provocar a alternância democrática. Deixou que o lado tradicionalista de sua alma o impedisse de ver a inconsistência que havia em ser tão radicalmente abolicionista, tão favorável à integração do negro na cidadania, e venerar a monarquia.
Se a visão política de Joaquim Nabuco não chegou a ser a de um revolucionário propriamente dito, embora conservador (como no título da obra citada acima, ideia extraída de Gilberto Freyre) foi muito mais do que simplesmente um saudosista ou um conservador. Em Tocqueville se vê, a despeito de sua criatividade intelectual, no que consiste um verdadeiro conservador: compreende o sinal dos tempos mas não se comove com eles; aceita-os sem adesão emocional e, se possível, luta contra as mudanças.
Pode-se concordar com o comentário de Marco Aurélio Nogueira que, em seu “O encontro de Joaquim Nabuco com a política”, sublinha as dificuldades para sustentar o liberalismo no Brasil, como Nabuco fez. Em um país escravocrata não haveria sujeitos sociais que apoiassem ideias liberais. A despeito de nosso liberalismo ser fruto de um feixe de “ideias fora do lugar”, o autor mostra que ele acabou por se ajustar às realidades, ficando por isso mesmo incompleto ou deformado. Sem negar o que de certo há no argumento, não há que exagera-lo. Marco Aurélio Nogueira faz justiça a Nabuco, mas vai um tanto,longe ao qualificar o liberalismo do império: “Liberalismo conservador, elitista e antipopular, tingido de autoritarismo, antidemocrático e sem heroísmo.” (P.100) “
Se a visão política de Joaquim Nabuco não chegou a ser a de um revolucionário propriamente dito, embora conservador (como no título da obra citada acima, ideia extraída de Gilberto Freyre) foi muito mais do que simplesmente um saudosista ou um conservador. Em Tocqueville se vê, a despeito de sua criatividade intelectual, no que consiste um verdadeiro conservador: compreende o sinal dos tempos mas não se comove com eles; aceita-os sem adesão emocional e, se possível, luta contra as mudanças.
Pode-se concordar com o comentário de Marco Aurélio Nogueira que, em seu “O encontro de Joaquim Nabuco com a política”, sublinha as dificuldades para sustentar o liberalismo no Brasil, como Nabuco fez. Em um país escravocrata não haveria sujeitos sociais que apoiassem ideias liberais. A despeito de nosso liberalismo ser fruto de um feixe de “ideias fora do lugar”, o autor mostra que ele acabou por se ajustar às realidades, ficando por isso mesmo incompleto ou deformado. Sem negar o que de certo há no argumento, não há que exagera-lo. Marco Aurélio Nogueira faz justiça a Nabuco, mas vai um tanto,longe ao qualificar o liberalismo do império: “Liberalismo conservador, elitista e antipopular, tingido de autoritarismo, antidemocrático e sem heroísmo.” (P.100) “
(Fernando Henrique Cardoso, na palestra em homenagem a Joaquim Nabuco, em 18/3/2010, na Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro.)
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