segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Máfia do Turismo planejava fraudes em outros setores


A organização acusada de desviar verbas do Turismo no Amapá, alvo da Operação Voucher, pretendia cometer mais fraudes em outros estados e setores, segundo apurou a Polícia Federal. Em conversa interceptada, Luiz Gustavo Machado, diretor do Ibrasi, diz a um empresário que pretendia dar a ele o contrato para construir um porto, numa concorrência viciada. Obras em cidades da Paraíba e de São Paulo também são citadas por outros funcionários da ONG. Uma das estratégias do grupo era comprar o CNPJ de ONGs, além de fraudar comprovantes de pagamento e lista de presença de cursos inexistentes, concluiu a PF. A investigação mostra ainda que uma funcionária do Ministério do Turismo foi ao Amapá orientar uma das ONGs suspeitas a forjar uma prestação de contas

Muito além do Turismo

Grupo acusado de desvio no Amapá queria fraudar contratos em outros estados e setores

Fábio Fabrini

A organização acusada de desviar verbas de convênios do Ministério do Turismo no Amapá, alvo da Operação Voucher, estendia seus tentáculos para outros órgãos públicos, espalhados pelo país. Escutas feitas pela Polícia Federal com autorização da Justiça, às quais o GLOBO teve acesso, revelam a intenção dos envolvidos de fraudar licitações e superfaturar obras de prefeituras e até da construção de um porto, fora da abrangência do Turismo.

Num dos grampos, de 6 de julho, o diretor-executivo do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi), Luiz Gustavo Machado, conversa com um empresário, identificado como João Carlos, sobre a possibilidade de ajudá-lo com uma licitação:

"Tinha uma concorrência pra pôr na sua mão, faz vinte dias que eu tô atrás de você. (...) Era pra construir um porto", afirma Machado, acrescentando que, diante da demora de João Carlos para responder às suas ligações, repassou o serviço para outra empreiteira: "Você não me atendeu, eu dei pro Andrade Gutierre (sic)".

A assessoria de imprensa da Andrade Gutierrez não se pronunciou até o fechamento desta edição. Para a Polícia Federal, o diálogo mostra como Machado atua em todos os contratos que firmou com o poder público "de forma temerária" e "fraudando concorrências".

Em outra conversa, de 28 de julho, o sócio do Ibrasi fala sobre superfaturamento em licitação com seu amigo Roberto Rufica. "Você sabe quanto é o preço ganho na licitação? Mas isso entre nós aqui, você sabe quanto é o preço ganho?", pergunta Rufica, respondendo em seguida: "R$165 o metro cúbico, ganhou a licitação com esse preço". Entre risos, Machado retruca: "Podia pagar 50, né?"

Envolvidos ensinam a superfaturar obra

Uma das funcionárias do Ibrasi no Amapá, Karla Karoline Almeida, diz em 1º de junho que a Sinc Recursos Humanos e Automação, empresa envolvida com as fraudes no ministério, iria pegar mais um projeto de turismo em João Pessoa, com "um município". Outra agente do Ibrasi, Uyara Schmittd, já teria se mudado para a capital paraibana para cuidar do assunto: "A Fabiana (sócia da Sinc) vai ter uma reunião com a secretária de Turismo desse município dia 6 de junho (de 2011), e nessa reunião as coisas serão definidas", comenta, sem dar detalhes do negócio.

Nos relatórios da Polícia Federal, o dono do Ibrasi é citado como um lobista com contatos com diversos empresários e funcionários públicos. Os grampos também flagraram Sandro Saad, diretor financeiro da entidade, conversando em 26 de maio com um empresário sobre um edital de R$31 milhões da Prefeitura de São Vicente (SP) para obras em vias públicas. Segundo a PF, embora o edital não tivesse sido publicado, Saad já tinha a planilha e o memorial descritivo do empreendimento. Dando a entender que houve conluio com funcionários públicos, ele diz que deseja que o interlocutor pegue a obra. O GLOBO não conseguiu contatar os citados nas escutas e seus advogados, assim como a Prefeitura de São Vicente.

Nos telefonemas interceptados, os envolvidos ensinam como superfaturar obras públicas e falsificar documentos de licitações. Em 21 de junho, o empresário Humberto Siva Gomes - sócio da Barbalho Reis, uma das empresas do esquema - diz que "quando é dinheiro público, não pesa no seu bolso. Aí, você joga pro alto mesmo, até porque, se você não jogar, vai perder logo de cara, porque todo mundo vai jogar". Criou essa ideia aqui: "ah, é pro governo, joga o valor pra três, tudo vezes três"".

FONTE: O GLOBO

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