Natuza Nery
SÃO PAULO - "Parabéns, você acaba de comprar uma bela empresa", disse Fernando Cavendish, na última segunda-feira, ao fechar a venda da empreiteira Delta, uma herança de seu pai agora no centro do escândalo Carlinhos Cachoeira.
A negociação começou no fim de abril, quando o empreiteiro recebeu recado de um emissário do banco JPMorgan: Joesley Batista, presidente da holding J&F, queria encontrá-lo para uma oferta. O convite foi logo aceito e, no dia 28, os dois finalmente foram apresentados.
Batista ofereceu um almoço na sua casa em São Paulo. Começava ali a negociação relâmpago.
Joesley não queria perder o negócio. Há tempos pretendia entrar na área da construção civil. Viu na fragilidade da Delta a oportunidade de desembolsar nada, ou muito pouco, e entrar num ramo pródigo em contratos estatais.
Cavendish também tinha pressa. A CPI já discutia transformar a Delta em foco das investigações por conta das relações de executivos, em especial Cláudio Abreu, com Cachoeira.
Menos de 24 horas após o primeiro encontro, Joesley Batista desembarcava no Rio para um jantar na casa do empresário.
No dia seguinte, foi à sede da Delta conhecer a empresa. Cavendish mostrava as dependências da companhia e, frequentemente, mexia no cinto como quem tenta apertá-lo. Ele já emagreceu cerca de 10 kg em quatro semanas, dizem os poucos amigos que ainda o veem.
O negócio com J&F, controladora do frigorífico JBS, só não foi fechado naquela semana porque faltava algo importante: medir a temperatura do governo.
A missão coube a Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central. Hoje à frente do conselho de administração da holding, ficou encarregado de consultar o ex-presidente Lula. Segundo interlocutores de Cavendish, o encontro ocorreu na última sexta-feira, três dias antes da assinatura do contrato.
Procuradas, as assessorias de Lula e de Meirelles negaram a conversa.
"Pode ficar tranquilo, a Delta está bem", repetiu Cavendish diversas vezes ao comprador. Joesley Batista assinou o documento na última segunda-feira. Os dois se abraçaram, mas sem grande exaltação.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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