sexta-feira, 11 de maio de 2012

PT se divide sobre convocação de Gurgel

Humberto Costa não quer procurador-geral como foco da CPI; Rui Falcão, presidente do partido, cobra explicações

LIGAÇÕES PERIGOSAS

Isabel Braga, Cristiane Jungblut e Chico de Gois

BRASÍLIA E SÃO PAULO - A polêmica participação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, nos debates sobre a CPI do Cachoeira rachou o PT. Parlamentares e dirigentes do partido estão divididos quanto à necessidade de Gurgel explicar à CPI seus procedimentos em relação às operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal. Ontem, enquanto petistas mais afinados com o Planalto buscaram esfriar os ânimos, outros, como o presidente nacional do PT, Rui Falcão, cobravam explicações.

Um dia após as declarações de Gurgel de que os que o atacam temem o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal, alguns petistas amenizavam o clima de disputa. O senador Humberto Costa (PT-PE) alertou que o foco da investigação não é o chefe do Ministério Público:

- A reação dele foi totalmente sem sentido, mas não há elementos e nem existem razões que justifiquem, neste momento, a vinda dele à CPMI e ao Conselho. Não é que eu defenda que ele não venha. Mas não vamos transformar a CPMI na CPMI do procurador-geral. É a CPMI do Cachoeira.

Líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA) também adotou um tom moderado:

- Desde o início que acertamos com o relator Odair o relatório de depoimentos. A decisão do que fazer será depois. Haverá um ajustamento.

Já o relator da CPI, Odair Cunha (PT-MG), admite que Gurgel dê explicações, mas que poderá escolher como fazê-las: oralmente ou por escrito.

- Tratamos de questões substantivas. Questões adjetivas não nos interessam. O procurador pode escolher a forma como explicar porque não pediu abertura de inquérito em 2009, quando recebeu da Polícia Federal o resultado da Operação Vegas - disse Odair.

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, cobrou explicações de Gurgel sobre as declarações à CPI do delegado da Operação Vegas de que o procurador-geral e sua mulher, a subprocuradora Cláudia Sampaio, não abriram inquérito para investigar as denúncias apuradas em 2009.

- Continua a dúvida sobre as declarações do delegado Raul Henrique Souza que atribuiu à esposa do procurador-geral e a ele próprio não dar consequência às denúncias que recebeu do juiz federal na Operação Vegas - disse Falcão.

Sobre as críticas a Gurgel terem origem no medo do mensalão, o deputado respondeu:

- É uma afirmação dele (Gurgel). É preciso que ele responda à pergunta que foi lançada, não por qualquer pessoa, mas por um delegado da Polícia Federal. Não me consta que ele (o delegado) faça parte da lista de processados no mensalão.

Integrante da CPI, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) endossou o coro dos descontentes:

- Como põe um ponto final? Com uma explicação dele (Gurgel).

Em depoimento ontem à CPMI, o delegado Matheus Mela Rodrigues, responsável pela Monte Carlo, afirmou que em nenhum momento a operação conduzida por ele teve contato com algum resultado da Vegas, iniciada em 2007 e paralisada em 2009 porque o procurador-geral não consentiu que ela fosse concluída.

FONTE: O GLOBO

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