Enquanto a greve dos professores mantém interrompido há quase dois meses e meio o ano letivo em 57 universidades geridas pelo Ministério da Educação, paralisações ampla da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) e parcial, operação-padrão, dos auditores da Receita Federal, produzem crescentes efeitos restritivos de atividades econômicas importantes. Como as dos principais portos do país e no setor de mineração. A imprensa de ontem registrou queda de 50%, na semana passada, do número de navios de carga em trânsito pelo porto do Rio de Janeiro – este e o de Vitória, basicamente de exportação de minério de ferro, os mais prejudicados pelo movimento grevista da Anvisa -, bem como uma redução significativa dos trabalhos de fiscalização sanitária e da atuação da Receita Federal nos terminais portuários de Santos e da região sul, com o aumento de filas de navios a serem atendidos e dos veículos com cargas a serem embarcadas ou para aquelas a serem recebidas. Já a greve do DNPM suspende ou retarda os pedidos de pesquisa e os processos de licença para atividades minerais. Isso num contexto bem desfavorável para as chamadas opera-ções do Brasil no exterior. As quais, de acordo com dados do Banco Central divulgados ontem, registraram em junho um saldo negativo de US$ 4,41 bilhões, que, anualizado, elevou-se a US$ 51,8 bilhões. Divulgação coincidente com o anúncio pela GM – General Motors do fechamento de suas oito fábricas paulistas de São José dos Campos.
Esse quadro agrega mais obstáculos à nova meta macroeconômica da presidente Dilma Rousseff: a reversão no segundo semestre do péssimo comportamento do PIB no primeiro, a fim de que o país possa ter este ano um crescimento de 3% ou pelo menos equivalente ao de 2011, de 2,7%, assim desmentindo as projeções da maioria dos analistas que já o avaliam abaixo de 2%. E objetivo que cumpriria também importante papel político – o de uma taxa de expansão em torno de 4% no último quadrimestre, na fase decisiva das eleições municipais. Taxa que seria explorada pelo marketing do Palácio do Planalto e das campanhas dos candidatos governistas como indicador de uma “virada” da economia já este ano.
“Virada” relevante principalmente para as disputas nos grandes centros urbanos. Onde um mix de inevitáveis efeitos sociais da persistência da desaceleração da economia (para a qual tem concorrido também o precaríssimo gerenciamento dos programas de obras federais de infraestrutura, praticamente todas sofrendo atrasos) com o impacto do julgamento do mensalão poderá ter sérias consequências para candidatos petistas mais vinculados ao ex-presidente Lula, como os de São Paulo e do Recife, e para o diretamente associado à presidente Dilma, o de Belo Horizonte. Cabendo assinalar que nas duas principais disputas – a paulistana e a da capital mineira – tais candidatos (segundo as mais recentes pesquisas do Datafolha, feitas após a formalização das alianças e das chapas) aparecem em grande desvantagem. No primeiro caso, Fernando Haddad, sob ameaça de ficar fora do 2º turno contra José Serra (o que provavelmente será revertido no chamado horário gratuito) e, no segundo, Patrus Ananias, precisando descontar 17 pontos de vantagem do adversário Márcio Lacerda, sem o que o candidato respaldado por Aécio Neves poderá liquidar o embate em apenas um turno eleitoral.
Jarbas de Holanda é jornalista
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