Se STF foi tribunal de exceção, com que roupa os comissários tratarão os
mensaleiros de outros partidos?
Os argumentos do desconforto de comissários, intelectuais e políticos da
nação petista diante das sentenças do Supremo Tribunal Federal colocam-nos na
situação do sujeito que usa livre-arbítrio para acreditar que a rua Barata
Ribeiro é uma transversal da avenida Atlântica. Pode acreditar nisso, mas nunca
mais será capaz de achar um endereço em Copacabana.
Oito dos 11 ministros da corte foram nomeados por Lula e Dilma Rousseff. Ao
sustentar que esses juízes formaram um tribunal de exceção, os companheiros deslustram
o mérito das indicações dos governantes petistas.
Salvo os doutores Toffoli e Lewandowski, a corte teria cedido a uma pressão
dos meios de comunicação. Se essa influência fosse infalível, como explicar que
a mesma corte, por unanimidade, reconheceu a constitucionalidade das cotas para
as vagas nas universidades públicas? Contra elas estava a unanimidade dos
grandes meios de comunicação, ressalvada a autonomia assegurada a alguns
articulistas.
Dois condenados (José Dirceu e José Genoino), ergueram em suas defesas
passados de militância durante a ditadura. Tanto um como outro defenderam
projetos políticos que transformariam o Brasil num Cubão (Dirceu) ou numa
Albaniona (Genoino).
Felizmente, a luta de políticos como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e
Paulo Brossard trouxe esses militantes perseguidos para a convivência
democrática, e não o contrário. Se tivessem prevalecido as plataformas do PC do
B ou do Molipo, Ulysses, Tancredo e Brossard teriam vida difícil.
A teoria da conspiração contra guerrilheiros heroicos estimula construções
antidemocráticas de denúncia da justiça e da imprensa a serviço de uma elite.
Nos anos 60, muita gente achou que a luta contra a "democracia
burguesa" passava pela radicalização e até pelos trabucos. Deu no que deu.
Ficaria tudo mais fácil se os companheiros entendessem que fizeram o que não
deviam e foram condenados. Endossaram a teoria da impunidade do caixa dois
eleitoral porque acharam que ela os protegeria. O melhor a fazer seria reerguer
a bandeira abandonada da moralidade. Assim poderão batalhar pela condenação de
mensaleiros de outros partidos e apresentar-se aos eleitores com um projeto
livre de capilés.
Fonte:
Folha de S. Paulo
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