Na semana passada já havia acontecido a mesma coisa, mas não passou de especulação: a Bolsa subiu a partir do boato de que o Ibope detectara uma queda da candidatura da presidente Dilma que acabou se confirmando apenas em parte naquela ocasião.
Hoje, a confirmação da queda de popularidade da presidente fez com que a Bolsa voltasse a subir e o dólar a se desvalorizar diante da Real, seguindo a previsão dos economistas: se a reeleição da presidente for inevitável, os mercados reagirão de mau-humor, fazendo a Bolsa despencar e o dólar subir, como aconteceu com Lula em 2002.
Caso contrário, como a nova pesquisa do Ibope indica, a possibilidade de alternâncias no poder faz com que a mercado financeiro festeje mudanças futuras. Em alguns cenários na pesquisa anterior, Dilma caia de 43% para 40%, mas mantinha a tendência de fechar a eleição no primeiro turno.
Essa queda especulada há uma semana foi confirmada hoje em nova pesquisa, desta vez abordando apenas a popularidade pessoal da presidente e a de seu governo, sem entrar na medição de intenção de votos dos candidatos à eleição presidencial deste ano, o que deve acontecer mais adiante, confirmando ou não a tendência de queda na intenção de votos nela.
Caso se confirme uma tendência de queda, será bom também saber para onde foram esses votos arrependidos. Tanto podem aumentar a faixa dos brancos e nulos ou a dos “não sabem”, quanto ir para os adversários, indicando então uma nova tendência na corrida presidencial.
Os novos números demonstram que a popularidade da presidente caiu de 43% em novembro para 36% agora, o que a coloca novamente no patamar próximo aos 30% a que chegou em junho do ano passado, durante as manifestações de rua. A arrogância do marqueteiro João Santana, que previu que a presidente recuperaria o total de sua popularidade ainda no ano passado – voltando aos 57% que tinha – não foi respaldada pela realidade.
As pesquisas indicam que a maioria do eleitorado está em busca de mudanças na maneira que gerir o país sem a presidente Dilma à frente do Executivo. Essa queda registrada ontem é conseqüência do desejo, revelado na pesquisa anterior do mesmo Ibope, de uma maioria de 64% do eleitorado que quer que o próximo presidente “mude totalmente” ou “muita coisa” na próxima gestão.
Entre esses, apenas 27% consideram que a própria Dilma poderá fazer as mudanças necessárias, o que significa que cerca de 40% do eleitorado quer mudar tudo, inclusive Dilma. O caso da Petrobrás é exemplar de como esse mal-estar das ruas se reflete na atuação política. A oposição minoritária acabou forçando a convocação de uma CPI auxiliada por uma dissidência da base aliada do governo em diversas dimensões.
Os senadores do PSB votaram contra o governo, solidificando a posição oposicionista que deve ser aprofundada na eleição de outubro. Isto quer dizer que pela primeira desde 2002 o candidato do PT vai ter num provável segundo turno a ação coordenada de dois candidatos de oposição real.
Há também diversas dissidências em partidos da base como o PMDB e o PP, o que confirma a previsão de que o governo pode vir a ter o tempo de televisão de todos os partidos da base, mas provavelmente não terá nem a lealdade nem a máquina partidárias desses partidos a seu lado integralmente.
Os candidatos da oposição mais conhecidos, Aécio Neves pelo PSDB e Eduardo Campos pelo PSB ainda não obtém nas pesquisas a integral votação dos cerca de 40% que querem mudanças radicais no comando do país, o que indica que ainda têm campo para melhorar a atuação. Eles terão o benefício de terem seus programas eleitorais na televisão nesse momento de ebulição.
Há também dois outros candidatos que podem agregar votos para oposição, ajudando a realização de um segundo turno: o pastor Everaldo, do PSC, aparece com 3% dos votos e, dizem os especialistas, tem fôlego para chegar a cerca de 5%. E o jovem senador Randolfe Rodrigues, do PSOL, pode ter uma posição melhor do que o candidato anterior Plínio de Arruda Sampaio, que não obteve nem 1% dos votos na disputa de 2010.
O importante nesse tremor de terra registrado pelo Ibope é que a queda de popularidade da presidente Dilma se deu sem as manifestações de massa nas ruas, apenas provocada pelas notícias ruins que vieram se acumulando ao longo dos últimos dias.
Fonte: O Globo
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