Notícia ruim não anda só. Caminha em bando, como bem pode atestar a presidente Dilma Rousseff de seu gabinete no Palácio do Planalto com vista para a Praça dos Três Poderes, onde bem ao centro localiza-se o Congresso Nacional.
Ali é que terá, nessa altura, maior repercussão a pesquisa CNI/Ibope que registrou a queda de sete pontos porcentuais no índice de avaliação positiva, agora em 36%. A população ainda não está eleitoralmente mobilizada, mas para os partidos e os políticos a hora de armar o jogo é agora. Muitos à espreita de Dilma na esquina. E aqui falamos dos ditos governistas.
De acordo com os pesos e medidas usados por especialistas no tema, um governante candidato à reeleição é considerado competitivo quando tem pelo menos 40% das indicações nos quesitos ótimo e bom.
Por essa régua, no momento a presidente Dilma estaria fora da zona de razoável conforto. Longe da faixa entre 45% a 50% em que o candidato é tido como franco favorito e mais distante ainda dos 50%, patamar acima do qual dificilmente alguém é derrotado.
Na semana passada se ouviu cantar esse galo, mas como ninguém sabia direito onde, correu a boataria de que uma pesquisa do Ibope registraria a queda das intenções de voto da presidente. Divulgados, os números desmentiram os boatos: ela continuava com os mesmos 43% da consulta anterior, feita em novembro.
Ontem apareceu o fundamento do falatório. A queda referia-se à avaliação do governo, comumente traduzida como popularidade da presidente. Esse era um ativo que Dilma ainda mantinha para lidar com uma base parlamentar tão ampla quanto insatisfeita, embora sem ter para onde correr, com resquícios de reverência decorrentes do favoritismo numérico diante de pretendentes da oposição.
Esse capital dá sinais concretos de erosão que os políticos captam no ar e transformam rapidamente em ação. Para começo de conversa, se reduz o receio do confronto com o governo. Quando eclodiu a última crise com o Parlamento liderada pelo PMDB, a versão do departamento de propaganda do Planalto é que a briga seria excelente para a presidente, pois ela ficaria com os dividendos da intransigência e os políticos, com os prejuízos da má imagem junto à opinião pública.
Como se viu pelo resultado da pesquisa, não se observou ganho algum junto à população. A ideia de se aproveitar do desgaste dos políticos evidentemente não cai bem entre eles, o que resulta em má vontade, principalmente entre deputados, no empenho pela reeleição da presidente. Ora, quando a isso se soma uma queda acentuada na popularidade, a insatisfação se manifesta mais abertamente e cada vez com menos cerimônia.
Tal ambiente não foi criado por obra da oposição. Tanto não foi que os dois candidatos, Aécio Neves e Eduardo Campos, ainda não têm o grau de conhecimento da presidente e continuam com índices baixos de intenção de votos. Todos os problemas que o governo enfrenta foram confeccionados internamente e são do conhecimento geral.
Condução errática da economia, insuficiência de desempenho na saúde, educação, segurança, ausência de diálogo com setores importantes da sociedade, menosprezo às críticas, manipulação da realidade, submissão dos interesses de Estado a conveniências partidárias, predominância eleitoral sobre todas as coisas, a presunção de que ao PT tudo é permitido e quem discordar é ingrato ou golpista.
A presidente não mede consequências. Não mediu no confronto com sua base aliada, não mediu quando acreditou que sua palavra bastava para encerrar um assunto relativo à Petrobrás e prosseguiu sem medir ao entrar na base da força bruta para impedir a CPI para investigar negócios da estatal. Foi ela quem colocou a empresa na berlinda.
A oposição não tinha número, mas tanto o governo ameaçou fazer e acontecer que as assinaturas apareceram em reação. O esforço para a retirada proporcionará cenas do arco da velha. Para quem pedir e para quem aceitar voltar atrás. Um prato para a oposição.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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