sexta-feira, 28 de março de 2014

Pior notícia para presidente é o 'Volta, Lula'

Raymundo Costa

BRASÍLIA - A pior notícia da pesquisa para a presidente Dilma Rousseff é o reaquecimento do movimento "Volta, Lula", uma espécie de gripe mal curada que ameaça se transformar numa pneumonia.

O PT e os aliados esperavam a queda na avaliação positiva do governo desde a semana passada, mas foram surpreendidos por uma pesquisa do mesmo Ibope mostrando a presidente ainda numa faixa de conforto, com expectativa de reeleição em 1º turno.

A pesquisa divulgada ontem não mediu a intenção de votos, mas a avaliação do governo. E ela não é boa, o que deve ser visto como um sinal de advertência pela presidente. Afinal, quanto mais bem avaliado é o governo, melhores são suas chances na eleição.

Até a pesquisa da semana passada, o "Volta, Lula" permeava todas as articulações políticas em Brasília, desde a escolha de candidatos a governador até a nomeação de ministro. Os 43% de intenções de voto aferidos pelo Ibope funcionaram como um freio nas expectativas.

Os 36% de avaliação do governo da pesquisa divulgada ontem têm o efeito contrário. Dilma entrou na perigosa "faixa dos 30%" - como se diz nos corredores dos palácios de Brasília - que é a margem de tolerância do PT para a manutenção de sua candidatura.

A pesquisa que surpreende, na realidade, é a da semana passada. Afinal, a presidente da República atravessa uma zona de turbulência capaz de desestabilizar qualquer governante: demora para nomear o novo ministério (o que indica hesitação ou pouco apreço pelo Congresso), a nomeação de mais um ministro de Lula, sem falar num bate-boca infrutífero com o PMDB.

A confrontação com os políticos pode até render algum dividendo para a presidente, mas o rebaixamento da nota soberana do Brasil tem seu preço: o governo reage com desdém, como na fábula da uva e a raposa. Mas comemorou de maneira ufanista quando a mesma agência concedeu o grau de investimento.

Por último, mas certamente o mais importante: a inflação está com viés de alta. Na eleição de outubro pode estar próxima ao teto da meta. Como estava quando Dilma desabou 30 pontos nas pesquisas, em junho do ano passado. A carestia é que causa a insegurança em relação ao emprego, quando o desemprego é mínimo, detectada pela pesquisa CNI/Ibope.

Definitivamente, as próximas semanas não indicam alívio político para Dilma, como indica o recrudescimento das articulações para a criação da CPI da Petrobras.

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