Brasil não perde chance de manifestar apoio incondicional a Maduro, quando poderia trabalhar por uma solução negociada para a grave crise
As Forças Armadas da Venezuela reiteraram seu “apoio monolítico” ao presidente Nicolás Maduro, mas outras informações relativizam o fato. Ao receber, em Caracas, os chanceleres dos países da Unasul, Maduro anunciou a prisão de três generais que “organizavam um levante”. Nem Maduro nem o comando militar, que também tratou do fato, deram os nomes dos supostos golpistas. Não é o primeiro caso: três coronéis da Guarda Nacional foram presos por não concordarem em aumentar a repressão em Valencia, estado de Carabobo. Desde o dia 4 de fevereiro, a Venezuela tem sido sacudida por protestos, com prisão de mais de 1.500 pessoas e quase 40 mortos.
Os indícios de fratura no dispositivo militar que apoia Maduro mostram que as tensões causadas pela maior crise no país nas últimas décadas estão minando as bases de um regime enfraquecido pela morte de Hugo Chávez, cujo primeiro aniversário se deu em 5 de março. Maduro escolheu o caminho do fechamento, do endurecimento e da repressão. Levou ao limite a divisão entre chavistas e o restante da população e da classe política, quando deveria ter aberto canais de diálogo para descomprimir uma situação explosiva, agravada pela escassez de produtos básicos, por uma inflação de 57% ao ano e por uma espiral de violência do crime.
A ofensiva do regime contra oposição levou à prisão dois prefeitos — o de San Diego, Enzo Escarano, condenado em processo-relâmpago a 10 meses de detenção, e o de San Cristóbal, Daniel Ceballos, condenado a um ano —, acusados de não impedir ou incentivar protestos contra o governo em suas cidades. Já o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, cassou o mandato da deputada oposicionista María Corina Machado sem obedecer a qualquer rito ou votação, numa expressão do virtual estado de exceção em que já vive a Venezuela.
O “crime” da deputada foi aceitar um convite do Panamá para, ocupando sua cadeira na OEA, relatar o que se passa na Venezuela. Segundo Cabello, ela violou a Constituição. Em entrevista ao diário peruano “El Comercio”, do Grupo de Diarios América (GDA, do qual O GLOBO faz parte), Corina provou que a decisão é uma afronta à própria legislação bolivariana. Omite o presidente da Assembleia que, em 2009, Caracas convidou Manuel Zelaya, presidente deposto de Honduras, para ocupar sua cadeira na OEA e expor sua versão dos fatos. Dois pesos e duas medidas.
Da prisão, onde se encontra há mais de um mês, o líder oposicionista Leonardo López escreveu artigo para o “New York Times” em que pede o apoio da comunidade internacional e diz que “muitos dos líderes atuais da América Latina sofreram abusos (como a prisão) similares em seu tempo e não deveriam ser cúmplices silenciosos dos abusos de hoje”. A carapuça se encaixa na presidente Dilma, entre outros que mantêm apoio incondicional a Maduro, quando deveriam trabalhar por uma transição negociada na Venezuela.
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