Presidente de Conferência Episcopal Venezuelana defende Vaticano como facilitador de diálogo no país
Janaína Figueiredo – O Globo
BUENOS AIRES — A Conferência Episcopal Venezuelana acusou nesta quarta-feira o partido no poder e o presidente Nicolás Maduro de tentar impor um governo totalitário na Venezuela, o que alimentou os protestos opositores que já duram quase dois meses, com um saldo de 39 mortos. Em entrevista ao GLOBO, o presidente de CEV, o monsenhor Diego Padrón, defende o Vaticano como facilitador de diálogo entre governo e oposição.
A oposição rechaçou uma mediação da União de Nações Sul-americanas (Unasul). A Igreja poderia ocupar esse lugar?
Diego Padrón: Achamos e já dissemos que a Igreja está disposta a servir de facilitadora do diálogo, porque o povo está reclamando o diálogo entre as partes, não existe outro caminho para superar esta situação. O caminho não pode ser a violência, a repressão, o golpe de Estado. Estou convencido de que governo e oposição concordam que a Igreja, neste caso o Vaticano, poderia facilitar este diálogo. A Igreja venezuelana não poderia atuar como facilitadora porque estamos envolvidos nesta situação e nossas opiniões poderiam gerar conflitos. Deve ser um terceiro alheio à crise.
O senhor conversou com a Santa Sé sobre esta possibilidade?
Não tivemos contato, mas o porta-voz do Vaticano disse que a Santa Sé estaria disposta a intervir.
Semana passada, ONGs locais acusaram chanceleres da Unasul, entre eles o do Brasil, de minimizarem a repressão na Venezuela...
O chanceler brasileiro certamente não está bem informado. Há uma constante agressão contra a vida e os direitos humanos, está claríssimo, não é circunstancial, é constante. Temos informações sobre torturas e abusos, as vítimas recorrem à Igreja. Há uma repressão desmedida na Venezuela e a repressão não é o caminho, o caminho é o diálogo.
A CEV responsabiliza o governo pela crise?
O que nós fizemos foi um chamado ao governo e à oposição para que compreendam a gravidade da situação, que tenham a convicção de que a repressão não é o caminho para normalizar o país. A causa desta crise, que não pode ser ignorada, é o propósito de impor um sistema de governo autoritário e violento.
Como superar esta crise, se a oposição não aceita o governo e não há eleições no médio prazo?
Os protestos não surgem somente pela ação da oposição, as manifestações nascem de um povo que está cansado de muitas coisas e no qual os estudantes têm um protagonismo especial... Não é uma mobilização tanto dos partidos políticos e sim da população. Não temos por que esperar eleições, a situação urge, reclama que se normalize a vida dos cidadãos, e a única forma de normalizá-la é que as partes em conflito se encontrem, discutam, dialoguem e tenham como objetivo um elemento comum que é o país, o bem-estar de todos. Não estamos falando em mudança de governo, e sim no diálogo entre governo e oposição.
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