María Corina critica passividade de América Latina em relação à Venezuela
Após manifestantes serem retirados da sala, parlamentar exibiu vídeo com cenas da polícia reprimindo protestos na Venezuela
Demétrio Weber – O Globo
BRASÍLIA — Após um início de discurso conturbado, quando foi interrompida por manifestantes durante audiência no Senado brasileiro, a líder opositora María Corina Machado pediu nesta quarta-feira uma maior implicação e apoio dos países democráticos da América Latina. Em uma clara referência ao governo brasileiro, María Corina considerou “incompreensível que países que foram tão ativos nas crises políticas no Paraguai e Honduras, deem as costas para a Venezuela.
— Nossos países são signatários da Carta Democrática Interamericana, que estabeleceu compromissos entre os países deste hemisfério para a defesa e a promoção da democracia. Para os venezuelanos, é incompreensível ver como países da América Latina foram tão ativos em situações como as crises políticas ocorridas em Paraguai e Honduras e, frente ao ocorrido na Venezuela, nos dão as costas. O que tem que acontecer na Venezuela? Quantas violações mais aos direitos humanos? — questionou.
A opositora, cujo mandato foi cassado pelo Congresso venezuelano na semana passada, recebeu o apoio expresso do candidato Aécio Neves, em segundo lugar nas pesquisas eleitorais para a Presidência, atrás apenas de Dilma Rousseff.
A parlamentar criticou também a União de Nações Sul-americanas (Unasul), dizendo que a entidade estaria com a credibilidade arranhada devido à sua proximidade com o governo Maduro, e comparou a situação que a Venezuela vive hoje com a da ditadura militar brasileira iniciada em 1964.
— Pelas circunstâncias da vida, venho na hora em que seu país completa 50 anos do início da ditadura. Sei que ficaram muitos sentimentos dolorosos, com famílias destruídas e torturas. Isso nos une, porque é o que a Venezuela vive atualmente.
Durante a manhã, María Corina havia começado há poucos minutos quando foi interrompida pelo protesto. Eles começaram a gritar “golpista” e foram retirados por seguranças. Logo depois, a parlamentar exibiu um vídeo com cenas da polícia reprimindo protestos na Venezuela. A senadora Vanessa Graziotin (PCdoB) denunciou tratar-se de uma “montagem grotesca”.
— Por que você rejeitou uma conferência de paz, proposta pelo governo de Maduro? — perguntou.
“Aberração típica da ditadura”
Ao desembarcar no Aeroporto Internacional de Brasília, María Corina classificou a cassação de seu mandato de uma “aberração típica de uma ditadura”. Ela chegou à capital por volta das 11h para participar de reuniões com as comissões de Relações Exteriores do Senado e da Câmara.
A deputada afirmou que a Venezuela vive hoje sob censura e que a imprensa internacional tem sido fundamental para mostrar ao mundo o que se passa naquele país.
— Na Venezuela há uma censura atroz. Graças a vocês o mundo viu a crueldade de uma repressão massiva e sistemática por parte do regime de Maduro e começa a chamar as coisas por seu nome. Na Venezuela não há democracia, há um regime que atua como uma ditadura — disse a repórteres.
E reafirmou que continua sendo deputada, porque assim decidiu o povo da Venezuela.
— É uma aberração. É um ato que só ocorre em ditaduras. Vim a Brasília como deputada e vou continuar sendo nas ruas da Venezuela.
A parlamentar foi recebida pelo presidente da Comissão de Relações de Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), e por dois venezuelanos que moram no Brasil. Um deles presenteou a deputada com rosas. Ela ficará no Brasil até sexta-feira ou sábado.
A comissão do Senado decidiu convidar também um representante do chavismo, provavelmente a deputada Blanca Eekhout, para vir a Brasília, mas ainda não foi marcada a data. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) disse que transmitirá a Blanca a sua opinião de que Corina deveria ter tido direito de defesa antes de ter o mandato cassado.
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